Sempre que um carnavalesco morre, é lugar-comum dizer que o Carnaval ficou menos alegre.
Com a morte de Joãosinho Trinta pode-se afirmar que a festa ficou menos inteligente – e corajosa. Foi ele que, em 1989, capitaneando no Rio de Janeiro a Beija-Flor de Nilópolis, fez com que os brasileiros engolissem o enredo e a alegoria “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”. Numa época do ano em que também é lugar-comum dizer que “tudo é só alegria”, Joãosinho Trinta pôs na Marquês de Sapucaí a imagem de Jesus coberta por sacos de lixo, chamando a atenção para os mendigos do Brasil.
A Igreja Católica o execrou, os jurados hesitaram, mas a pressão popular de um País que voltava à democracia fez com que dessem à Beija-Flor pelo menos o segundo lugar. Ele morreu de infecção generalizada no último fim de semana, no Maranhão, aos 78 anos. É dele a célebre frase que correu o mundo: “Pobre gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”.