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INSTRUÇÕES
Quem acessa site do Exército pode aprender a manusear lança-rojão encontrado na Rocinha

Na ocupação da Rocinha no início de novembro, a polícia encontrou em poder dos traficantes um lança-rojão AT-4, modelo de bazuca de uso restrito das Forças Armadas. Não foi a primeira vez que uma arma de guerra caiu nas mãos do crime organizado. Surpresa é descobrir que os criminosos podem aprender a manusear um equipamento destes com ajuda do próprio Exército. Estão disponíveis no site oficial das Forças Armadas, especificamente na página do Departamento de Ensino, manuais de operação do AT-4, do fuzil FAL 7.62 e outras armas portáteis. Também há instruções para uso de minas terrestres e montagem de armadilhas com granadas. Não se trata de manuais de fabricantes, mas documentos produzidos e avalizados pelo Estado Maior do Exército. Essa informação estratégica, que deveria estar guardada a sete chaves, pode ser acessada por cidadãos comuns a partir de alguns cliques no mouse. “Isso é um risco à segurança nacional”, avalia o coronel reformado Milton Corrêa da Costa, da Polícia Militar do Rio. “Já basta a legião de conscritos que são devolvidos às ruas com um mínimo de habilidade com equipamentos bélicos. Agora os narcoterroristas podem beber direto da fonte. É um absurdo”, critica.

Os manuais do Exército podem ser acessados de duas maneiras. Em sites de busca, basta colocar uma palavra-chave para acessar o link diretamente. Outra opção é entrar no site do Departamento de Ensino e preencher um cadastro, que não precisa ter informações verdadeiras. E engana-se quem pensa que se trata de informação técnica de difícil leitura. São manuais de campanha, que ensinam, por exemplo, técnicas de tiro noturno, tiros em alvos móveis, em operações ofensivas e defensivas, tanto em área urbana como na selva. No manual da bazuca, há todos os dados e recomendações de manuseio, além de desenhos e esquemas ensinando como disparar e em que circunstâncias é necessário ajustar a alça de mira. O manual de minas e armadilhas traz instruções sobre uso em todo tipo de operação, inclusive ofensivas, e dá dicas de lançadores e o preparo de campos de guerra.

Embora pareçam evidentes os riscos que o Exército corre ao disponibilizar manuais bélicos, o entendimento sobre a classificação desses documentos não é consensual. O coronel reformado Geraldo Cavagnari, pesquisador da Unicamp, não vê problemas e acha difícil controlar a divulgação. “Os traficantes não têm condições de ler um manual desses”, afirma. Corrêa da Costa discorda. “As autoridades brasileiras são muito inocentes na área de segurança nacional. Estamos a um passo de permitir a criação de uma milícia paramilitar”, adverte.  

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