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OLHO NO FUTURO
Ferraz (à dir.), ao lado de Lina Bo Bardi e André Vainer, no Sesc Pompeia

Superar a função documental do patrimônio histórico para torná-lo vivo, útil e atual. Dessa forma o passado servirá de espelho e referência a um futuro por construir. Essa é a receita de como a boa arquitetura deve se portar em relação às obras exemplares de todos os tempos. Assim escreve Marcelo Carvalho Ferraz em Memória do Futuro, texto originalmente publicado no jornal “Folha de S.Paulo”, em fevereiro de 2003, e hoje reeditado na coletânea “Arquitetura Conversável”.

Ao longo dos artigos e entrevistas reunidos neste livro – publicados em veículos de comunicação nos últimos dez anos –, saltam à vista as conceituações que Ferraz faz de passado e futuro, e sua interdependência. Outro destaque são as narrativas dedicadas a Lina Bo Bardi, a célebre arquiteta romana que, recém-chegada ao Brasil, em 1946, com o marido, Pietro Maria Bardi, é convidada a ficar aqui para criar um museu de arte, o Masp.

A onipresença de Lina nas letras de Ferraz explica-se em sua biografia. Ainda estudante da FAU-USP, em 1977, ele inicia com Lina sua atividade de arquiteto no projeto para o Sesc-Pompeia, em São Paulo. Nesse projeto, trabalharia até sua construção e inauguração, em 1986, e de Lina Bo Bardi seguiria fiel escudeiro até a morte dela, em 1992.

Com as lições do passado e o olho no futuro, Ferraz rascunha soluções para as difíceis equações que se nos apresentam: as ações urbanísticas projetadas para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016; a urbanização das favelas cariocas; a revitalização de cidades e bairros históricos; a minguada presença de espaços de uso coletivo nas cidades brasileiras.

“Arquitetura Conversável” tem, afinal, a curiosa similaridade com um livro de receitas no que ele tem de mais sociável e compartilhável. Afinal, como a cidade, o fogão e a mesa são lugares de encontro. De fato, as pautas que viraram textos parecem ter surgido mais em mesas de jantar do que em pranchetas de escritório.