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RESULTADO
Trauma dos conflitos pode levar cães a ter dificuldades de relacionamento

Para vencer a guerra contra o Talibã no Afeganistão, os Estados Unidos contam com o sacrifício e a bravura de guerreiros que nem sequer sabem por que causa estão lutando. No conflito, que já dura dez anos, o saldo é de muitos animais mortos, mutilados ou com distúrbios mentais. Nas trincheiras do país islâmico asiático, destacam-se os cães, que farejam explosivos e minas. Não são os únicos. Bichos de diversas espécies estão empenhados em missões militares mundo afora. No Oceano Pacífico, golfinhos e leões-marinhos capturados participam de exercícios da Marinha americana atrás de minas nas águas. Na retaguarda, laboratórios vinculados ao Departamento de Defesa usam animais em testes, simulando situações que podem ser vividas por soldados.

A pressão a que são submetidos faz com que muitos animais retornem do front com transtorno de estresse pós-traumático, apresentando dificuldade de se locomover ou de se relacionar. O tratamento muitas vezes precisa ser feito com o uso de drogas dadas a pessoas com síndrome do pânico ou doenças psíquicas similares. Especialista em comportamento animal, César Ades, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), explica que os cachorros respondem a situações de estresse de forma semelhante aos humanos, e podem chegar a um quadro neurótico. “Os cães prestam um serviço imprescindível também para bombeiros e policiais. A questão é saber como são feitos os treinamentos. O animal tem um limite que tem de ser respeitado”, afirma o especialista. Ele não tem conhecimento de maus-tratos a cães pelo Exército brasileiro, embora haja cachorros que saltem de paraquedas e podem ficar traumatizados por isso.

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NA ÁGUA
No Oceano Pacífico, golfinhos buscam minas no fundo do mar

O processo pode ser, realmente, cruel para o animal. “Porcos são baleados, esfaqueados ou queimados vivos. Cabras vivas têm suas pernas quebradas com alicate ou cortadas com tesouras. Com os furões, eles introduzem goela abaixo tubos rígidos de plástico”, diz Justin Goodman diretor da ONG Peta (sigla em inglês que significa Pessoas a Favor do Tratamento Ético dos Animais) que defende o fim dessas práticas e ganhou a adesão de artistas internacionais. Após receber críticas, o Departamento de Defesa americano baixou, há dois meses, uma norma restringindo os experimentos com animais com o objetivo de coibir os maus-tratos.

Há uma razão para se levar animais ao front. “É uma questão de custo/benefício. Na África, por exemplo, ratos são usados para localizar minas. Eles morrem, mas pior seria se uma pessoa ficasse mutilada numa eventual explosão”, diz Expedito Carlos Stephani Bastos, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em estratégia militar. Para ele, o emprego dos bichos ajuda a poupar vidas humanas e só poderia ser abolido numa situação utópica, em que não houvesse mais conflitos no mundo. De qualquer forma, é importante debater o uso de animais nas atividades militares para inibir os excessos. Na Alemanha, os experimentos laboratoriais foram proibidos. Há dois anos, o governo da Bolívia aboliu os sanguinários exercícios militares em que cães vivos eram esfaqueados até a morte, depois que vídeos com a prática foram parar na internet. 

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