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PAUSA NO GLAMOUR
Asma al-Assad, da Síria (à esq.), e Rania, da Jordânia: aparições internacionais foram trocadas pelo recolhimento

Elas despontaram no cenário internacional como símbolos de uma faceta nova e moderna do mundo árabe. Belas, elegantes e formadas em universidades conceituadas, chegaram a ter projeção profissional antes de se casar com líderes de regimes autoritários. Transformadas em rainhas, princesas ou primeiras-damas, costumavam representar os maridos em encontros internacionais, como o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Mesmo quando surgiam na condição de acompanhantes, equilibradas em saltos vertiginosamente altos, tinham o poder de ofuscar qualquer rei. Depois que os protestos da Primavera Árabe se espalharam por seus países, esse seleto grupo de mulheres simplesmente desapareceu da cena internacional. A estratégia faz sentido. No decorrer de poucos meses, mulheres como a rainha Rania Al Abdullah, da Jordânia; a primeira-dama Asma al-Assad, da Síria; e a princesa Lalla Salma, do Marrocos, se tornaram símbolos de extravagância, desigualdade social e corrupção.

A rainha Rania, 41 anos, virou inclusive alvo de denúncias. Palestina nascida no Kuwait e formada em administração de empresas pela Universidade Americana do Cairo, Rania trabalhava na Apple quando conheceu Abdullah II, seis anos antes de ele herdar o trono do pai, o rei Hussein bin Talal. Casaram-se poucos meses depois. Assim que o marido foi coroado rei, em 1999, Rania passou a se dedicar a organizações em defesa dos direitos humanos. Inovou ao criar um site, que mantém atualizado mesmo na temporada de protestos, embora não faça comentários sobre as manifestações populares. O mais próximo que chegou foi durante a premiação de 25 professores pelo trabalho que desenvolvem. “A mudança para nós é uma oportunidade”, disse Rania na segunda-feira 5. “Uma oportunidade para aprender com o passado e definir planos modernos para o futuro.”

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VOLTA AO LAR
Lalla Salma: a primeira mulher de um rei do Marrocos a aparecer em público

Para 36 líderes tribais, que representam 40% da população, a rainha trabalha mais em causa própria do que a favor dos súditos. Em documento enviado ao rei Abdullah II, eles reclamaram da ostentação de Rania, custeada pelo Tesouro, e a acusaram de enriquecer a família com facilidades nos negócios e doações de terra. “Pedimos ao rei que devolva a terra e as propriedades dadas à família da rainha”, escreveram os líderes tribais. “A terra pertence ao povo jordaniano.”

Na vizinha Síria, a primeira-dama Asma al-Assad, 36 anos, tem outro tipo de problema. Nascida e criada em Londres – o pai é médico bem-sucedido, a mãe, diplomata aposentada –, Asma jamais foi totalmente aceita na Síria, embora seja o país de origem dos seus pais. Formada em engenharia da computação pelo King’s College de Londres, ela trabalhou como analista de fusões e aquisições no Deutsche Bank e no JP Morgan, em Paris e em Nova York. Assim que se casou com o presidente Bashar al-Assad, em dezembro de 2000, trocou a lida no sistema financeiro internacional por atividades em organizações não governamentais, a exemplo da rainha Rania. No país conduzido a mão de ferro por Assad, que herdou a Presidência do pai, o ex-presidente Hafez al-Assad, a primeira-dama sempre foi vista como o rosto suave de um regime duro.

Asma ficou ainda mais isolada depois da violenta repressão desencadeada pelo governo al-Assad, que já matou quatro mil dissidentes, de acordo com estimativa das Nações Unidas. Se antes a primeira-dama compensava as dificuldades internas com fulgurantes aparições internacionais, agora ela está limitada aos domínios de sua casa em Damasco. No Marrocos, a princesa consorte do rei Mohammed VI, Lalla Salma, 33 anos, passa pelo mesmo processo de recolhimento. Engenheira de computação que parou de trabalhar após o casamento com o rei, em 2002, Lalla quebrou uma série de tabus. Foi a primeira mulher de um rei do Marrocos a ter a identidade revelada, a primeira a obter o título de Alteza Real e a primeira a não ficar reclusa em um harém. Atuante em programas contra o câncer e a Aids, Lalla chegou a representar o rei no exterior, mas agora desapareceu do público. 

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