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Nas últimas semanas, o tucano José Serra mostrou como está em descompasso com o restante do partido. Na terça-feira 22, despertou a ira do diretório municipal de São Paulo e até de dirigentes nacionais da legenda ao dizer que os quatro pré-candidatos do PSDB à prefeitura paulistana não teriam condições de vencer as eleições de 2012. De quebra, ainda defendeu que a sigla se aliasse e oferecesse a cabeça de chapa ao PSD, de Gilberto Kassab, hipótese que muitos caciques do partido rejeitaram prontamente. Ainda sem rumo, na segunda-feira 28, numa palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ex-governador fez um discurso inflamado criticando a condução econômica do País, justo no momento em que o Brasil vem mostrando vitalidade frente à crise internacional.“O Brasil foi o único país do mundo que não baixou os juros, foi uma coisa fenomenal, não há erro mais espetacular de política econômica”, disse Serra. A análise contraria a posição dos correligionários Aécio Neves, senador mineiro, e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo. Mais uma vez, ninguém entendeu o destempero verbal de Serra no ninho tucano.

O incidente mais inusitado, no entanto, foi protagonizado no sábado 19, durante a posse do núcleo sindical paulista da legenda, evidenciando ainda mais o isolamento de Serra na sigla. Bastante irritado, ele bateu boca com o presidente da juventude tucana de São Paulo, Paulo Mathias, 20 anos. Queria explicações por ter ficado de fora de uma publicação da entidade, que preferiu não citar o nome de líderes sem mandato na revista. Quando soube, Serra ficou uma fera. Ao seu velho estilo, classificou a publicação como “revistinha” e rompeu com o grupo. A discussão acabou fazendo com que integrantes das juventudes de vários Estados alvejassem o tucano por vários dias nas redes sociais.

 

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CAFEZINHO
Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo, liderados por
Alckmin (da esq. para a dir.), selam pacto sobre 2012

Não foi uma reação qualquer. Com a experiência de quem já comandou a União Nacional dos Estudantes (UNE), Serra conhece os meandros desses movimentos. Sabe como poucos que aqueles jovens costumam seguir, atentamente, os conselhos de quadros mais experientes. Foi o que aconteceu. Internamente, cardeais tucanos se dizem cansados dos desmandos de Serra. Segundo um integrante da executiva do PSDB, a postura dele é muito centralizadora e voluntariosa. “Ele não faz concessões nem pensa duas vezes antes de entrar em uma disputa partidária, mesmo que, no final, ela prejudique o partido”, diz um dirigente do partido. “Isso faz muita gente esperar a oportunidade para dar o troco”, resume um deputado estadual da sigla. “Quem chegou novo ao partido, em 2002, acreditando no projeto de país, agora já está ficando velho e cansado das seguidas derrotas para o PT”, analisa o deputado federal Eduardo Gomes (PSDB-TO).

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Com o prestígio em baixa, Serra atualmente segue uma estratégia dúbia. Ora faz afagos antes impensáveis a correligionários, ora desprestigia integrantes do partido. O que Serra não discute nem quer que seja debatido dentro da sigla é a hipótese de lançarem seu nome à Prefeitura de São Paulo, pelo menos enquanto as pesquisas apontarem uma possível derrota. “O Serra deixa o clima turbulento, esvazia a campanha dos outros e reclama de falta de apoio. Aí não dá, né?”, diz um dirigente tucano. Nesse cenário, não é de estranhar a afirmação do presidente de honra do partido, Fernando Henrique Cardoso, de que é mais fácil falar do futuro do euro do que o do PSDB.

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