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SOBREVIDA
Por controlar 75% da bancada do PDT na Câmara, Lupi vai se mantendo no cargo

Alvo de uma decisão inédita da Comissão de Ética da Presidência da República, que recomendou ao Palácio do Planalto sua demissão por violação de conduta, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, resistiu mais um tempo no cargo. A duras penas. Convocado pela presidenta Dilma ­Rousseff a explicar as novas denúncias de duplo emprego, Lupi pediu prazo para provar inocência. Mas sua validade está se esgotando. Esperava-se que ele caísse, porém Dilma contrariou as expectativas, surpreendendo a oposição, o PT e outros partidos da base aliada, que não foram poupados em episódios anteriores. Enquanto outros seis ministros tombaram, Lupi ganha sobrevida, embora pesem contra ele acusações graves (leia o quadro). Desde agosto, ISTOÉ vem denunciando a cobrança de propina na Secretaria de Relações do Trabalho para a liberação de cartas sindicais. Agora se sabe que Lupi, acusado de acumular ilegalmente salários da Câmara dos Deputados e do gabinete de um vereador, também recebia como funcionário da Prefeitura do Rio de Janeiro. ISTOÉ teve acesso a seus contracheques, o último deles, inclusive, é de março de 2007 – mês em que assumiu a função de ministro de Estado.

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NO PAPEL
Documentos comprovam que Lupi recebeu salário como
funcionário da prefeitura do Rio em 2006 e 2007
 

A pergunta que se faz em Brasília: é o que segurou Lupi no cargo? A resposta envolve questões concretas e outras abstratas, até emocionais. É o caso, por exemplo, do afeto que Dilma conserva pelo PDT, legenda em que iniciou sua trajetória política levada pelas mãos do ex-marido Carlos Paixão Araújo, até hoje ligado ao partido fundado por Brizola. A presidenta, que se refere ao ministro do Trabalho como “Lupinho”, também tem levado em conta pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de esperar até a reforma ministerial de janeiro para fazer novas demissões. E aí entram questões práticas. Além de não ter encontrado um nome adequado para substituir Lupi, mantendo a pasta nas mãos do PDT, Dilma tem no ministro um aliado fiel e poderoso. Influente no partido, do qual é presidente de fato, ele controla ao menos 75% da bancada pedetista na Câmara e age rapidamente quando há uma ameaça de rebelião. Foi assim na votação do salário mínimo, em fevereiro, quando a bancada prometia votar contra o valor de R$ 545 definido pelo governo. Lupi foi convocado pelo Planalto e conseguiu que 19 dos 26 parlamentares seguissem sua orientação. Há duas semanas, o ministro atendeu novamente aos apelos palacianos e telefonou para todos os deputados do PDT pedindo que aprovassem a prorrogação da DRU (Desvinculação de Receitas da União). Conseguiu 24 votos e foi elogiado. “Não é por acaso que a presidenta vem mantendo ele no cargo”, admite o líder do PDT, deputado Giovanni Queiroz (PA).

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HOMEM DA MALA
Eudes Carneiro (à esq. do ministro), assessor de Lupi (centro),
é acusado de cobrar propina para liberar cartas sindicais

O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, avalia que demitir Lupi agora, sem substituí-lo por outro pedetista, criaria atrito com o PDT. Ele lembra que a exoneração em julho do ministro dos Transportes, senador Alfredo Nascimento, provocou um profundo desgaste com o PR. A sigla, presidida por Nascimento, quase rachou de vez com o Palácio do Planalto e até hoje ameaça abandonar a base governista. “Dilma não pode se dar ao luxo de perder os votos do PDT”, afirma Fleischer. Não estão em jogo apenas as votações no Congresso, mas o apoio para as eleições municipais de 2012. O PDT tem ascendência no movimento sindical, que se uniu para defender o ministro. Além de promover uma multiplicação de entidades em seu mandato, Lupi fortaleceu as centrais sindicais. “Já estamos no fim do ano e a presidenta está vendo que não vale a pena se desgastar com o PDT como ocorreu com o PR”, reforça o deputado Luciano Castro (PR-RR).

De certa maneira, a presidenta também não quer ter suas ações pautadas pela mídia, de onde tem vindo a maior parte das denúncias de corrupção contra integrantes de seu governo. Dilma apoia o papel de fiscalização da imprensa, mas não quer dar a impressão de que herdou de Lula uma espécie de governo amaldiçoado, infestado de corruptos – como quer a oposição. Por isso, ela preferiu segurar Lupi e o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), ao menos até janeiro. Na reforma ministerial, a presidenta pensa em eliminar secretarias especiais e ministérios nanicos, como o da Pesca e Aquicultura, e até reunificar as pastas do Trabalho e da Previdência.

Dilma também ficou irritada com o vazamento para a imprensa da decisão da Comissão de Ética antes mesmo que o parecer chegasse à sua mesa. O documento, de apenas dez linhas, foi considerado “sucinto demais” pela presidenta. Mas não foi a primeira vez que o ministro se viu censurado pelo órgão. Em 2007, os conselheiros sugeriram sua demissão, alegando irregularidades no acúmulo do cargo de ministro com o de presidente do PDT. Depois de muita polêmica, Lupi se licenciou, mas manteve-se no comando de fato do partido. Teve o apoio do presidente Lula. E, desta vez, Dilma também optou por não dar ouvidos à comissão. “Quem decide sobre demissão de ministro sou eu”, disse a presidenta. Lupi ganhou tempo. Mas, segundo fontes do Planalto, o ministro dificilmente passará desta semana. O ideal para a presidenta seria que ele pedisse demissão. Seja como for, o ex- jornaleiro que ainda manda no PDT já é uma página virada. 

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