A sala do apartamento de Ed Motta
no elegante bairro carioca do Jardim Botânico é dividida em duas paixões.
De um lado, seu coração bate forte
por sua coleção de cerca de 20 mil discos de vinil. Do outro lado da
ampla sala, o coração vive apaixonado pela coleção de vídeos de cinema.
Em meio a esse cenário, sobre uma mesa, há pacotinhos enfileirados que parecem destoar do ambiente musical e cinematográfico. “É a minha mais nova mania”, diz Ed Motta. E qual é essa mania recém-adquirida? “Chá, simplesmente chá.” Dito isso, ele prepara e serve um delicioso chá de origem africana – acompanham o chá amoras. “Lógico que se fosse um bolo de amoras seria melhor”, diz ele, explicando que está de dieta. Ed Motta, 34 anos, não sabe quanto está pesando, mas é visível que seu peso ultrapassa dois dígitos. Exercícios físicos? Brevemente o músico fará exercícios de “levantamento de malas” por conta da turnê européia na qual divulgará o seu novo disco, Aystelum, que mistura diversos ritmos e tem Alcione (uma de suas cantoras prediletas) como parceira na faixa Samba azul. O álbum, uma das melhores traduções do complexo som de Ed Motta, será lançado esta semana na Inglaterra.

Ele é mais um caso de artista que faz bom sucesso internacional e passa meio batido no Brasil – como aconteceu com Seu Jorge (antes de É isso aí, com Ana Carolina) e Bebel Gilberto. Ed sabe que sua música é admirada e consumida por poucos no Brasil, mas não se importa: “A única coisa que temo é não conseguir pagar meu condomínio. Artisticamente, prefiro fazer algo contundente a angariar fundos.” Ele também se preocupa com a manutenção de alguns de seus hábitos, embora os charutos caríssimos tenham sido substituídos, por ordem médica, por uma “alternativa vagabunda” – assim ele descreve as cigarrilhas que fuma. O vinho também ganhou um contraponto: “Inventei um vinho sem álcool para eu poder beber o dia inteiro.” As outras obsessões são as cervejas belgas e as revistas de histórias em quadrinhos.

Essa última paixão é dividida com Edna Lopes, autora de obras do gênero e com quem ele está casado há 15 anos. O bom gosto do casal é refletido no ambiente vintage do apartamento, com móveis e objetos de décadas passadas agora enfeitados com pacotes, saquinhos e latas de chás. “Para ficar perfeito, o chá
tem de ser preparado com água mineral.” Mais receita: “preferencialmente com spring water, ou água de montanha. A nossa água de Petrópolis também é boa.” Quando lhe dizem que a sua nova mania sai caro, ele concorda. E esnoba: “Não é para o povão, mas eu não consumo nada do povão. Felizmente! A não ser que seja o povão da Itália, o povão da França.” Nessas horas, Ed Motta comprova pelo temperamento que é mesmo sobrinho de Tim Maia – de quem, aliás, não gosta de falar. “A gente não se dava bem. Personalidades diferentes, sabe?” Ele se entusiasma, e muito, quando o tema é 7, o musical, que estréia este ano no Rio de Janeiro com direção de Charles Moeller, letras de Cláudio Botelho e, claro, músicas suas. Após a temporada no Rio de Janeiro, esse musical desembarcará em São Paulo, cidade que o carioca Ed Motta adora: “Só não mudo para Sampa porque tenho dependência física do Rio.”