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CÉU DE SÃO PAULO
A camada de poluição nos expõe a um coquetel de substâncias perigosas

A pesquisa era para avaliar o impacto da vida urbana no nível de estresse de quem mora em grandes cidades. Conduzido pelo departamento de estudos em geografia e habitat humano da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, o levantamento ouviu, em diferentes momentos, 36 pessoas com idades entre 20 e 40 anos sobre o que as incomodava na cidade. Simultaneamente, sensores que acompanhavam essas mesmas pessoas durante a pesquisa mediram a qualidade do ar por onde elas circulavam, o nível de ruído, calor e a variação do ritmo cardíaco de cada uma delas. Cruzando os dados, foi possível fazer uma inesperada constatação. Entre as pessoas que circularam por áreas da cidade com baixa, mas constante concentração de monóxido de carbono no ar – um poluente comum em grandes centro urbanos –, o estresse foi menor que o esperado. “O efeito narcótico foi claro”, disse à ISTOÉ Itzhak Schnell, um dos autores do estudo. Ele foi percebido a partir de níveis de concentração do gás de três partes por milhão (ppm).

Apesar de não ser médico e ter formação voltada para a área da geografia, Schnell foi além e disse ainda que, nas concentrações observadas por ele e sua equipe, o monóxido de carbono (que em altas doses é tão letal que costuma ser usado por quem deseja cometer suicídio por intoxicação) não apresenta grandes riscos à saúde. O efeito, segundo ele, seria só de uma percepção atenuada dos fatores estressantes comuns nas grandes cidades. A afirmação é polêmica, pois outros estudos contradizem Schnell.

Um levantamento feito por Ubiratan de Paula Santos, pneumologista do Instituto do Coração de São Paulo, mostrou, por exemplo, que quando a concentração de monóxido de carbono no ar ultrapassa o 1,5 ppm, o número de internações por arritmia cardíaca no pronto-socorro do hospital aumenta em 10%. “Esse é um efeito imediato da exposição”, diz Santos. “A longo prazo, pode haver mais problemas, mas a gente ainda não sabe, porque é muito difícil isolar o monóxido de carbono como causa específica de uma doença quando o conjunto de poluentes a que estamos expostos é tão diverso”, explica o médico. Ou seja, se o gás de fato acalma, ele cobra um preço já conhecido a curto prazo e ainda desconhecido a longo prazo. “A meu ver, não há respaldo para cravar que o monóxido de carbono tem, isoladamente, um efeito narcotizante”, afirma Evangelina Vormittag, presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade. Mais pesquisas terão de ser feitas para avaliar o real impacto do gás sobre os seres humanos. 

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