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A crise econômica mudou o mapa político da Europa. No antigo paraíso dos benefícios sociais, os governos mais à esquerda têm sido atropelados pela chamada troika de investidores – Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional –, que exige medidas cada vez mais austeras. Não há governo que resista às pressões: desde que a crise da dívida da Grécia ameaçou contaminar toda a zona do euro, o comando de cinco países europeus foi trocado. A mais recente mudança ocorreu na Espanha, onde o conservador Mariano Rajoy conquistou no domingo 20 a maioria absoluta no Parlamento e imprimiu uma derrota histórica aos socialistas. Há sete anos no poder, o presidente Jose Luis Rodríguez Zapatero já esperava a reviravolta política e nem sequer se candidatou a um terceiro mandato. Com o país devastado pela recessão e a taxa de desemprego na casa dos 22,6% – o dobro entre a população de 15 a 25 anos –, o presidente eleito comemorou a vitória com sobriedade . “Tempos difíceis virão pela frente”, afirmou Rajoy. “Não há milagres.”

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que ocupa o posto de guardiã do bloco liberal, ao lado do presidente da França, Nicolas Sarkozy, foi direta ao cumprimentar Rajoy. Logo após os parabéns, Angela lembrou a Rajoy que ele recebera um mandato para “decidir e implementar com urgência as reformas necessárias”. Recados similares recebeu o economista liberal Pedro Passos Coelho em março, assim que foi eleito primeiro-ministro de Portugal, para suceder o socialista José Sócrates. Na quinta-feira 24, uma greve geral de 24 horas contra as medidas de austeridade adotadas por Coelho para obter um resgate financeiro internacional paralisou o país, que caminha para a pior recessão desde a redemocratização, em 1974. “Vamos ter de dar um passo atrás para amanhã dar dois passos para a frente”, tentou contemporizar o primeiro-ministro, ao admitir o impacto recessivo das ações do governo.

O cenário político-econômico não é menos delicado na Itália e na Grécia, onde os economistas Mario Monti e Lucas Papademos, ex-funcionários de organismos financeiros da União Europeia, foram nomeados chefes de governo após a derrubada de seus antecessores pela pressão dos mercados e dos países mais ricos do bloco. No mesmo dia que o primeiro-ministro português enfrentou a greve geral, o italiano Monti reuniu-se com Angela e Sarkozy na cidade francesa de Estrasburgo. No encontro, os guardiões do bloco liberal discutiram mudanças nos tratos da União Europeia para aumentar o controle da economia na zona do euro. Além de uma saída para evitar o colapso total, os dois líderes também se preocupam com o futuro eleitoral. Em eleições regionais, os partidos de Angela e de Sarkozy já sofreram derrotas este ano. A situação de David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, é distinta, embora ele também integre o bloco liberal. À frente do governo de um país que faz parte da União Europeia, mas não da zona do euro, Cameron quer também discutir questões relacionadas à moeda única, sob o argumento de que elas afetam diretamente seus interesses.