Na cerimônia em que o governo sancionou a criação da Comissão da Verdade, o ministro da Defesa, Celso Amorim, não abriu o microfone a familiares de desaparecidos políticos por entender que as falas poderiam afrontar os militares e que, se isso ocorresse, oficiais também pediriam a palavra. A psicóloga Vera Paiva, filha do ex-deputado e desaparecido Rubens Paiva, acredita que Amorim poderia ter recorrido a uma saída diplomática, relembrando seus tempos de ministro das Relações Exteriores: “Se o dilema era esse, era só deixar os familiares falarem e deixar os militares falarem também.” O problema dessa solução é que, pela hierarquia da caserna, militar não fala. Quem fala por eles, se quiser, é o ministro da Defesa. Assim, o dilema era outro: temendo a represália de militares, Amorim, na verdade, temia presenciar um ato de insubordinação que desmoralizaria sua autoridade.