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DESCASO
Manifestante protesta em favor do Protocolo de Kyoto,
que corre o risco de ser enterrado depois da COP-17

A crise financeira na Europa promete ter consequências pesadas também no setor ambiental. Uma das maiores preocupações da conferência climática COP-17, que acontece a partir da segunda-feira 28 em Durban, na África do Sul, é o fim do comprometimento dos países desenvolvidos com o combate ao aquecimento global.

No histórico das negociações, a conferência de Copenhague (a COP-15), em 2009, ficou marcada por ter atraído todos os holofotes com a presença dos grandes líderes mundiais na Dinamarca. A reunião do ano seguinte, em Cancún, no México, não chamou tanta atenção, mas teve o mérito de aprovar a criação de um fundo verde (leia quadro). A ideia é arrecadar US$ 100 bilhões dos países ricos até 2020, sendo US$ 30 bilhões até 2012. O dinheiro seria usado em projetos que reduzissem as emissões de carbono nas nações emergentes. Mas, com economias como Grécia, Irlanda e Portugal pedindo socorro ao Banco Central Europeu e outras nações com enormes dívidas a pagar, o comprometimento com um futuro sustentável pode ter ficado por último na lista de prioridades.

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Além de a conjuntura econômica não ajudar, o modelo do fundo é ainda criticado por ambientalistas. “Não acreditamos que o dinheiro tenha de ser destinado apenas a uma parcela do mundo. O que deveria acontecer é que todos os países deveriam ter a obrigação de contribuir e o benefício de usufruir desses recursos”, defende a coordenadora da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Leandra Gonçalves.

Mas a questão financeira não é o único problema. Há também as divergências políticas, que podem ter como principal vítima o Protocolo de Kyoto. O acordo foi criado em 1997, e estabelece metas que os países industrializados têm a obrigação de cumprir até 2012. Para os demais membros, o cumprimento é voluntário. Apesar de essa primeira fase terminar no ano que vem, o compromisso não acaba aí. “A proposta para o segundo período de Kyoto, que termina em 2020, é que as metas sejam ainda maiores. A União Europeia, por exemplo, se propôs a cortar entre 20% e 30% das emissões de CO2, tomando como referência os valores de 1990”, explica o diretor do departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, o embaixador André Corrêa do Lago.

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DRAGÃO
O compromisso chinês é fundamental para o avanço das negociações climáticas

Por sua vez, a porção rica do mundo afirma agora que a diferença entre as nações industrializadas e as em desenvolvimento não é mais tão grande como em 1997, e querem dividir essa conta. A ideia difundida por EUA, Rússia e Japão é deixar Kyoto de lado e assinar outro acordo, sem metas obrigatórias. “Isso não tem condições políticas de acontecer. Querem colocar emergentes e desenvolvidos em pé de igualdade, e sabemos que não é assim”, defende Corrêa do Lago, que será um dos membros da delegação brasileira na COP-17.
A única certeza é de que o tempo está se esgotando. Se os signatários quiserem que o Protocolo de Kyoto dure até 2020, é preciso aprovar as regras para o segundo período de compromissos ainda em Durban. E, enquanto negociadores internacionais, governos e ambientalistas tentam chegar a um acordo, as temperaturas continuam subindo. 

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