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GELADEIRA
O americano Mike Fossum é carregado por russos depois de voltar à Terra, na última terça-feira

Uma cena de cinema quebrou a monotonia da gelada paisagem do Cazaquistão na manhã da terça-feira 22. A bordo da claustrofóbica cápsula da nave russa Soyuz, três astronautas voltaram à terra firme depois de uma temporada de 167 dias na órbita do nosso planeta. O líder da missão era o americano Mike Fossum, que fez a viagem ao lado de um colega japonês e outro russo. O fato passaria sem alarde se não fosse um detalhe importantíssimo: trata-se da primeira jornada de um astronauta dos Estados Unidos no banco do carona depois da aposentadoria dos ônibus espaciais. A partir de agora, os americanos só irão ao espaço em missões não tripuladas (leia mais abaixo), com a ajuda dos parceiros da ex-União Soviética ou pagando o salgado preço cobrado pela iniciativa privada – que, diga-se, nem sequer conseguiu fazer um foguete sair do chão com sucesso até hoje.

Os riscos envolvidos na estratégia da Nasa preocupam os especialistas por diversos motivos, como a significativa perda da supremacia na exploração espacial. Mas o maior perigo pode estar na dependência de Moscou, algo impensável há duas décadas. Engana-se quem imagina que os poderosos da Roscosmos, a agência espacial russa, detenham uma tecnologia 100% segura. Apenas nos últimos meses, três problemas sérios acenderam o sinal de alerta.

No começo de agosto, uma falha no último estágio de um foguete russo fez com que um satélite de comunicação entrasse em órbita no curso errado. No fim do mesmo mês, parte de uma nave de carga soltou-se antes de chegar ao espaço e caiu em uma floresta da Sibéria. E, na semana retrasada, um foguete que levaria uma sonda russa a Marte teve problemas de propulsão e literalmente estacionou na órbita terrestre. “Espero que existam discussões francas entre a Nasa e seus colegas russos”, disse ao jornal “The New York Times” o especialista Scott Pace, ex-oficial americano e diretor do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington (EUA). Vivemos, portanto, a arriscada era em que o roto vai de carona com o malvestido. 

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