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PROTESTO
Manifestantes egípcios agora querem colocar um milhão de pessoas nas ruas

Os egípcios constataram que a queda do ex-ditador Hosni Mubarak não representou ainda a vitória da democracia. Nove meses depois de uma junta militar assumir em caráter provisório o comando do país, os manifestantes voltaram à praça Tahir, epicentro do levante do começo do ano. Desta vez, os protestos visam a acabar com o legado autoritário da era Mubarak, que inclui os militares. Com instituições frágeis, aparelho repressivo fortemente estruturado e oposição fragmentada, as Forças Armadas, em vez de investirem na transição, divulgaram uma carta de princípios que desencadeou protestos imediatos. No documento, a junta garantiu algumas liberdades individuais, mas reservou poderes quase ilimitados para os militares, acostumados a mandar desde o fim da monarquia, em 1952. No quinto dia de ocupação da praça e após a morte de pelo menos 35 pessoas, o governo de transição encabeçado pelo primeiro-ministro Essam Sharaf renunciou na terça-feira 22. Mas como quem manda de fato é a junta, os manifestantes continuaram o movimento.

“O povo quer a queda do marechal de campo”, gritavam os manifestantes, referindo-se ao líder da junta, o marechal Hussein Tantawi, que foi ministro da Defesa do regime deposto. Com a praça transformada em campo de batalha, o marechal decidiu fazer o seu primeiro pronunciamento à nação desde a queda de Mubarak, garantindo que as Forças Armadas estavam dispostas a entregar o poder “se o povo desejar, mediante um referendo popular, se necessário”. Partindo do princípio de que as manifestações não são referendo, Tantawi trabalha para começar a primeira fase das eleições parlamentares ainda nesta segunda-feira 28. Esse também é o interesse da Irmandade Islâmica, a organização fundamentalista com projeto de poder que participou da primeira onda dos protestos, mas agora se afastou das ruas.Nessa segunda fase da revolta egípcia, para a qual está sendo convocada uma marcha de um milhão de pessoas, a polícia vem usando um tipo de gás que provoca fortes convulsões, além de asfixia.

A dificuldade em conduzir o processo de transição, associada à violência e ao futuro incerto, não é, no entanto, exclusividade egípcia. No Iêmen, o país mais pobre da Península Arábica, protestos marcados pela violência também começaram em janeiro e há poucas esperanças de que o presidente Ali Abdullah Saleh, há 33 anos no poder, desapareça rapidamente do cenário político. Em acordo firmado na quarta-feira 23, Saleh manteve o título de presidente honorário por mais três meses, garantiu imunidade e asilo na Arábia Saudita, além do direito de viajar aos Estados Unidos para tratamento de saúde. Saleh manifestou ainda desejo de “colaborar” com a oposição. Como o Egito, a transição no Iêmen não deve ser tranquila.

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