i140356.jpg

DUPLA Briatore e Piquet: silêncio depois do escândalo

Antes festejada pela excelência de seus pilotos, carros e equipes, a Fórmula 1 atravessa uma temporada de baixo-astral. A má fase começou há dois anos, com a acusação de espionagem feita pela Ferrari contra a McLaren, e continuou em 2008, com a crise financeira derrubando drasticamente os investimentos. Por esse motivo, a Honda abandonou as pistas e grandes equipes caíram de produção. Neste ano, a BMW já anunciou que vai deixar a F-1 e a Toyota pode seguir o mesmo rumo. Para piorar, os amantes do automobilismo viram estourar na última semana aquele que pode ser o maior escândalo da F-1: a denúncia de que o piloto Nelsinho Piquet teria recebido – e cumprido – ordens do diretor esportivo da Renault, Flavio Briatore, para bater o carro contra a mureta no Grande Prêmio de Singapura de 2008 e, assim, beneficiar seu colega de equipe Fernando Alonso.

"Essas coisas causam um abalo, prejudicam a imagem", admitiu à ISTOÉ o piloto Chico Serra, que correu na categoria. "Mas acredito que depois de um tempo as pessoas esqueçam e continuem acompanhando as corridas." A extensão do prejuízo para a credibilidade da F-1 poderá ser mais bem avaliada no dia 21, quando a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) encerra a apuração do acidente.

Depois de estourar a bomba, Briatore e Piquet preferiram o silêncio. A repercussão do caso, no entanto, foi ruidosa. "Na época, o acidente me pareceu estranho", admitiu Rubens Barrichello. "Se for comprovado, merece punição." O dono dos direitos comerciais da categoria, Bernie Ecclestone, diz que o piloto é tão culpado quanto Briatore. "Se te mando roubar um banco e você faz, não adianta depois dizer que fez ‘porque o Bernie mandou’", disse ele. Os dois envolvidos têm a seu favor a dificuldade encontrada pelos investigadores para apurar um fato desse tipo. Caso a ordem tenha sido dada nos boxes, somente o depoimento de uma testemunha poderia elucidar a questão – a FIA já ouviu vários integrantes da Renault. A entidade também requisitou a gravação da comunicação via rádio entre a equipe e o piloto durante a corrida, mas dificilmente encontrará alguma fala explícita. A batida ocorreu na 13ª volta do Grande Prêmio de Singapura, quando Alonso estava nos boxes. Por causa do acidente, o safety car (carro de segurança) entrou na pista, obrigando todos os competidores a se alinhar. Com isso, Alonso teve condições de se recuperar e vencer a corrida. "É tão absurdo que prefiro não acreditar", diz Chico Serra. "Mas Briatore é realmente uma pessoa polêmica."

i140357.jpg

SOB SUSPEITA Carro de Piquet batendo em Singapura: acidente beneficiou a equipe Renault

Por incrível que pareça, o rumor nos bastidores é de que a denúncia à FIA tenha partido do próprio Piquet. Demitido no início de agosto, o piloto saiu atirando. Esquentado como o pai, o ex-campeão Nelson Piquet, ele atacou Briatore: "Ele é um ignorante em Fórmula 1." Quem já conviveu com Nelsinho Piquet – tido como malhumorado e capaz de criticar colegas sem a menor cerimônia – aposta que ele seja capaz desse tipo de represália. Já um piloto que o conhece muito bem duvida da participação dele nesse jogo sujo. "Não acredito que ele se envolveria em uma situação tão sem valor para vencer", afirma Roberto Pupo Moreno, que também correu na F-1.

"Não faz parte da sua criação." Se a FIA comprovar as denúncias, as penas serão duras para Piquet, que pode até ser banido, Briatore e a Renault, que deverá ser proibida de correr. Seria mais um degrau abaixo no prestígio da antes gloriosa Fórmula 1.