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MEDO Quatro assaltos em dez dias nos Jardins, em São Paulo

Eram 8h20 do dia 26 de agosto quando soou a campainha da casa do secretário do Emprego do Estado de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, no bairro nobre do Jardim Paulistano, na capital. À porta estava um rapaz com um enorme embrulho.

A empregada da família, que havia recebido muitos pacotes nos dias anteriores – o filho de Afif havia se casado recentemente -, abriu a porta porque o rapaz dizia que o pacote estava "muito pesado".

Ele então largou o embrulho, sacou uma arma e anunciou o assalto. Outros quatro surgiram armados e entraram na residência. Toparam com Afif e perguntaram onde estava o cofre. Se a informação não fosse dada logo, eles ameaçavam rumar para a casa do filho do secretário, na região.

Não havia cofre. Em 20 minutos, a ação dos bandidos havia terminado. Eles partiram levando 3 mil euros (R$ 8 mil) e joias da família. O caso é mais um na crescente onda de roubos sofisticados que vêm ocorrendo nas grandes cidades, sobretudo em São Paulo. Segundo levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP), um assalto passa a ser sofisticado quando há invasão de imóvel, envolvimento de pelo menos dois bandidos armados, utilização de disfarces e planejamento.

O caso de Afif é emblemático, mas não é o único. O mesmo estudo da SSP-SP mostrou que, entre janeiro de 2008 e junho de 2009, 223 assaltos sofisticados foram registrados na cidade – uma média de um a cada três dias. Nas grandes capitais esse tipo de ocorrência é cada vez mais comum. Em Niterói, no Rio de Janeiro, um prédio na praia de Icaraí foi invadido no último dia 5 de julho por dois bandidos disfarçados de entregadores de flores.

No fim do mês passado, em Santos, um casal de idosos que havia agendado a visita de um técnico de tevê a cabo foi rendido por bandidos com uniforme, crachá e boné da prestadora do serviço. Foram 40 minutos de pânico e R$ 2 mil em prejuízos. "O marginal já entendeu que, com portarias blindadas e sistemas de segurança, render o porteiro não é mais tão fácil quanto era e não garante acesso aos imóveis", diz o delegado Waldomiro Milanesi, coordenador da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio de São Paulo (DCCP-SP).

"O marginal já entendeu que, com portarias blindadas e sistemas de segurança, render o porteiro não é tão fácil quanto era"
Waldomiro Milanesi, delegado

Segundo Milanesi, entrar de forma simulada ou travestida são os dois expedientes básicos dos bandidos para driblar os sistemas de segurança. Simulada é quando o marginal furta um controle remoto para abrir o portão do imóvel ou clona o carro de um dos moradores – técnica comum em edifícios -, para enganar o responsável pelo portão. Travestida é quando usa disfarces, como de carteiro – o preferido dos bandidos -, entregador de farmácia ou funcionário de prestadoras de serviço, como os de tevê por assinatura.

A Net TV, por exemplo, pede para que seus clientes confirmem os dados dos funcionários em visita técnica pelo telefone 10621 se houver suspeitas. Em todos os assaltos, há um longo processo de pesquisa por parte dos marginais, que dão o máximo de verossimilhança aos disfarces e histórias. A região dos Jardins, na capital paulista, bairro onde o metro quadrado custa até R$ 16,8 mil, sofreu quatro assaltos desse tipo em apenas dez dias. Em três, houve rendição e agressão a moradores.

Um deles, na noite do dia 24 de agosto, foi na residência do deputado Antônio Curiati (PP-SP). Os bandidos entraram com um controle remoto de portão idêntico ao da família. Duas funcionárias foram rendidas aos tapas e coronhadas. Na casa estavam ainda o neto do deputado e sua irmã, de 22 anos, com o namorado. "A minha neta pulou da janela do segundo andar para fugir e acabou quebrando o pé", conta Curiati. A jovem foi operada.

"Os moradores estão apavorados com a violência e o nível de informação dos bandidos", conta João Maradei, diretor da associação de moradores do bairro. Para Milanesi, existem muitas formas de se descobrir informações da rotina de uma casa. Um empregado pode revelar, sem maldade, mais do que se imagina.

Em pontos de ônibus é comum os bandidos puxarem conversas, aparentemente desinteressadas, com funcionários da casa em vista atrás de informações. Os moradores também contribuem para a própria insegurança, falando demais de seus hábitos. "A palavra de ordem é sigilo", afirma o delegado. "Quanto menos você falar de si, melhor."

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Assassinato em Brasília

Na noite da segundafeira 31, um crime bárbaro estarreceu Brasília. O ex-ministro do TSE José Guilherme Villela, a esposa, Maria Carvalho, e a empregada do casal, Francisca Nascimento, foram encontrados mortos no apartamento da família, na Asa Sul. Foram desferidos mais de 70 golpes.

Só Villela, que defendeu o ex-presidente Fernando Collor no processo de impeachment, recebeu 26 facadas no peito e 12 nas costas. Sua mulher guardava uma grande coleção de joias em casa, quase todas roubadas no dia do crime. A polícia ouviu mais de dez pessoas, entre parentes da família e empregados do prédio. Não houve arrombamento. Um dos suspeitos do crime é um rapaz que foi defendido pelo advogado Augusto Villela, filho do ex-ministro. O rapaz foi preso em 2006 por roubo de uma bolsa.

Hugo Marques