Lendo os dados do IBGE que indicam que as mulheres são maioria entre os brasileiros que tentam a vida lá fora me lembrei de Elisabete. Acabo de conhecê-la num seminário promovido pela consultoria Ernst & Young na Califórnia. Durante cinco dias 2.200 pessoas, a maioria empresários, se reuniram para discutir oportunidades de negócios em várias partes do mundo. Inclusive aqui. Participei do painel Brazil: the hot market you need to know, e Elisabete estava na plateia. Como convidada especial. No peito, o crachá com a menção Winning Woman. Mulher vencedora, de fato.

Elisabete Miranda, uma brasileira do interior de São Paulo que chegou aos Estados Unidos sem falar uma palavra de inglês, aprendeu rápido e viu a chance. Hoje sua empresa, a Translation Plus, reúne 2.500 tradutores certificados, especializados em não deixar que um negócio se perca pelos frequentes erros de interpretação de um idioma para o outro. Elisabete percebeu que as diferenças culturais que ela mesma sentiu quando emigrou poderiam ser sua vantagem competitiva. Foi daí que veio a iniciativa de montar uma empresa que, além de simplesmente fazer a versão de um texto em outro idioma, também fornecesse consultoria cultural aos clientes.

No ano passado, ela ganhou um dos mais cobiçados prêmios para empreendedoras em território americano. O Winning Women, da Ernst & Young, seleciona, reúne e dá apoio durante um ano a mulheres que se lançaram no mercado com ideias inovadoras e coragem para implementá-las. E este ano Elisabete estava lá, na Califórnia, ao lado de representantes das maiores empresas do mundo, como o criador da Dell Inc., Michael Dell, além de convidados especiais, como o ex-presidente George W. Bush.

Tive muito orgulho da brasileira. Elisabete ganhou o mercado americano sem perder um fiapo daquela exuberância brasileira. A empresária é a definição da simpatia. Não a vi preocupada apenas em distribuir cartões e prospectar novos clientes. Ela de fato conecta pessoas, derrubando qualquer barreira de linguagem com aquele jeito aberto e um sorriso que não deixa espaço para formalidades em excesso. Elisabete seria uma vencedora em qualquer lugar do mundo, mas no Brasil, certamente, seria mais difícil.

O número de mulheres empreendedoras no Brasil já supera o de homens. E não estou falando apenas daquela mulher que abre um negócio empurrada pelo desemprego. Pesquisas mostram que 53,4% das pessoas que estão à frente de negócios planejados e consistentes são mulheres. É o empreendedorismo por oportunidade. Exatamente como a história de Elisabete. E preste atenção neste dado: em todas as regiões brasileiras, praticamente metade das mulheres não tem mais como sonho a carteira assinada e sim a sua própria empresa!

No caminho até lá, elas travarão uma guerra contra a burocracia e serão desafiadas por uma política fiscal insana. Isso se encontrarem orientação básica para elaborar um plano mínimo de negócios, como faz o programa Winning Women. Torço para que elas não desistam. Se você é uma delas e quer se inspirar em Elisabete, veja a entrevista completa com ela no www.tempodemulher.com.br. E boa sorte! No Brasil, você vai precisar dela. 

Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora