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PICARETAGEM
O psicólogo Diederick Stapel caiu em desgraça depois de ser desmascarado por seus colegas

A comunidade científica internacional tem enfrentado uma questão contraditória para uma área acostumada a contar com o respeito quase unânime da população: a quantidade impressionante de fraudes praticadas por pesquisadores e cientistas sobre teses que os levam a ganhar muito dinheiro. “Os ganhos financeiros vêm em forma de conferências, prêmios e portas que se abrem”, afirma o professor Fernando Galembeck, da Academia Brasileira de Ciência (ABC). Se eles ganham, perde a comunidade científica, que desperdiça recursos com falsários, em vez de aplicá-los em projetos importantes para a humanidade.

A última farsa de repercussão ocorreu na Holanda, onde o renomado psicólogo Diederick Stapel, catedrático da Universidade de Tilburg, confessou ter forjado os dados de dezenas de estudos publicados em revistas especializadas que o catapultaram ao prestígio mundial. Entre as descobertas contestadas estão a afirmação de que as pessoas que comem carne são mais agressivas do que os vegetarianos e que os brancos são mais propensos a discriminar os negros em ambientes conturbados.

Stapel foi desmascarado pelos próprios colegas, que desconfiaram de ele se recusar a mostrar os dados e nunca deixar seus alunos participarem da colheta dos mesmos. As fraudes mais comuns são justamente a fabricação ou invenção de dados (como fez Stapel), a manipulação dos resultados obtidos, o plágio e o auto-plágio (reapresentação total ou parcial de textos já publicados pelo mesmo autor, como se fossem inéditos). Como cada institutição é responsável pela verificação da idoneidade do trabalho de seus pesquisadores, não foi possível, ainda, a compilação de dados com a exata dimensão do aumento de fraudes.

“Tanto o Brasil como outros países ainda estão no início da adoção de práticas que identifiquem e evitem fraudes”, diz o professor Luiz Henrique Lopes dos Santos, coordenador da diretoria científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Pensava-se que a própria comunidade científica pudesse identificar e condenar as teses forjadas. Os anos e o aumento de casos mostram o contrário”, lamenta Santos. “Faltam diretrizes universais para que a análise desses dados seja padronizada”, defende o diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Paulo Sérgio Beirão. O órgão decidiu estabelecer um código de ética para pesquisas após a descoberta de fraudes em publicações envolvendo pesquisadores apoiados pela instituição. No caso, os doutores em Química Denis Guerra, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e Cláudio Airoldi, da Unicamp. 

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