A conquista da Rocinha, que se autoproclama como uma das maiores favelas do mundo, foi um marco social sem precedentes. Não apenas para os cariocas. A experiência, que deve ter continuidade agora com ações de natureza educativa e pacificadora, pode se converter num modelo de política de segurança para todo o País. Um grito de basta dos brasileiros ao controle afrontoso do tráfico e da violência que tem ferido nossas metrópoles inapelavelmente. Numa luta sem tréguas contra a marginalidade, implantando de maneira planejada e sistemática as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o Rio de Janeiro está fazendo história pelos morros e vielas antes dominados por organizações criminosas. Com a operação do último domingo, sem disparar um tiro sequer ou derramar sangue, o poder público fluminense resgatou um dos maiores polos de desigualdade social do País, abandonado há décadas por sucessivos governos. Na Rocinha ainda falta tudo: saneamento básico, ensino de qualidade, empregos, assistência médica. Mas a sensação de liberdade ao menos deu de volta aos moradores dali um sentimento há muito esquecido: o da dignidade. A Cidade Maravilhosa, conhecida assim por suas belezas naturais, projeta daqui para a frente uma imagem de cidade mais segura. Esse novo status não deve ser encarado como o epílogo de um trabalho. É apenas o começo dele. O comboio de ajuda à população local tem de seguir adiante para, no médio e longo prazos, viabilizar resultados realmente consistentes. Trata-se de uma mudança cultural para os habitantes da comunidade. Eles precisam ser convencidos, dia a dia, das vantagens dessa troca do poder marginal pelo poder legalmente constituído. Uma grande responsabilidade, mas também um estimulante desafio, para as autoridades. E que bom que o laboratório para esse experimento social seja justamente a cidade que, em breve, abrigará eventos de projeção planetária como a Olimpíada e a Copa. Com os olhos do mundo voltados para ali, erros não terão espaço. A tolerância deve ser zero.