Duas décadas de instabilidade econômica e crescimento pífio roubaram a crença de que o país adormecido tivesse qualquer futuro e também a capacidade de pensar além do hoje e planejar para construir o amanhã.

Na década de 80, num Brasil imprevisível, qualquer previsão econômica parecia impossível. Sem prever, para que planejar? Já que não conseguíamos vislumbrar o que viria, acostumamos a viver como se não houvesse amanhã. A preocupação era com a sobrevivência, não com o crescimento. Surpreso por não investirmos em infraestrutura e educação?

Até o planejamento mais banal ainda é ignorado. Todo ano chove o suficiente para alagar várias cidades brasileiras. Não é necessário ser um gênio para prever que, se nada for feito, teremos novos alagamentos. Ainda assim, ano após ano, as inundações e os desmoronamentos se repetem e a culpa, claro, é de São Pedro.

O país mudou – o crescimento acelerou, a economia se tornou mais estável –, mas nossa mentalidade de não nos prepararmos para o amanhã continua a mesma.

A crise econômica europeia chegou à Itália e à Espanha, onde as batalhas finais serão travadas. Os recursos para financiar esses países e capitalizar os bancos ­europeus – cerca de 1,5 trilhão de euros apenas para os próximos três anos – vão muito além da capacidade da Europa e do FMI de supri-los. Há três formas de lidar com a situação.

A primeira envolveria uma megacapitalização do FMI pelos novos donos do dinheiro, os países emergentes, incluindo o Brasil. Esta é a alternativa menos provável, pois os países “ricos” já deixaram claro que não aceitam a perda de poder geopolítico que a mudança de controle do FMI ensejaria.

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As duas alternativas restantes envolvem uma reces­são global em 2012. Ambas, provavelmente, levarão a Europa a uma década perdida, como a da América Latina nos anos 1980.

Uma delas é girar a maquininha de fazer dinheiro. Já que ninguém quer financiar países europeus com problemas, o Banco Central Europeu emite moeda para comprar títulos da dívida desses países. Mais de 300 bilhões de euros já foram emitidos; cinco ou seis vezes mais seriam necessários. Como todo brasileiro com mais de 30 anos sabe, isso acaba em megadesvalorização da moeda e aceleração inflacionária.

A outra é um calote, como o recém-praticado pela Grécia. Nesse caso, devido ao tamanho das dívidas de Itália e Espanha, perdas bancárias brutais provocariam uma forte contração da oferta de crédito e uma nova crise financeira global.

Uma recessão mundial é muito provável em 2012. Seus primeiros sintomas já se sentem no Brasil, com a indústria e o comércio se retraindo, a inflação começando a cair e o Banco Central cortando os juros. O cenário econômico será bastante adverso no início de 2012 e o crescimento será baixíssimo, como em 2009. Por outro lado, a economia brasileira se recuperou no segundo semestre de 2009. Em 2010, o país teve seu maior crescimento em mais de 25 anos. É provável que a história se repita e nosso crescimento bata recordes em 2013 e mantenha-se elevado em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições.

A previsão está feita. Para aproveitar a bonança que virá mais à frente, você e sua empresa precisarão passar pela tormenta, que está próxima. Planeje já, ou depois não reclame da inundação. 

Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa Manhattan Connection, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria


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