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EXPERIMENTAL
Foto do americano Man Ray, que foi para Paris nos anos 1920 e fez parte do grupo surrealista

Assim definiu o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) a atividade que abraçou aos 23 anos e da qual se tornou um mestre: “Fotografar é, num mesmo instante e numa fração de segundo, reconhecer um fato e a organização das formas percebidas visualmente que exprimem e significam esse fato.” Esse “senso de geometria” está presente nas 63 imagens do livro “Henri Cartier-Bresson”, o primeiro exemplar da coleção Photo Poche (Cosac Naify), que começa a ser publicada no Brasil. Juntamente com o livro de Bresson, saem os volumes dedicados aos fotógrafos Man Ray (1890-1976), Helmut Newton (1920-2004), Elliott Erwitt e ao brasileiro Sebastião Salgado. Ele e Tiago Santana são os únicos nomes nacionais contemplados nessa coleção que se tornou uma referência mundial na divulgação da arte fotográfica. Criado em 1982, o selo reúne cerca de 150 nomes e traça um panorama autoral e histórico da fotografia.

Com o lançamento, o Brasil passa a ser o sétimo país no mundo a contar com essa série. Tudo é luxo nos pequenos livros: papel, design, impressão, qualidade dos textos introdutórios, cuidado nas notas biográficas e bibliográficas e, claro, na seleção de imagens. Iniciar a sua publicação no Brasil pelo “pai do fotojornalismo” não poderia ser uma decisão mais justa. Nas páginas de abertura, o crítico Jean Clair compara Bresson, que tinha fascinação pelo Oriente, a um atirador zen: “Por uma espécie de senso supremo, mira de olhos fechados no instante em que o fortuito encontra o alvo.” Os melhores profissionais do ramo sabem do que Clair está falando. Trata-se do chamado “momento decisivo”, aquele instante em que a melhor foto se oferece em sua conjunção de forças – se não apertou o botão, perdeu-se para sempre a imagem. Algo parecido com o conhecidíssimo salto do apressado transeunte, que evita uma poça d’água aos fundos da Gare Saint-Lazare, em Paris, foto de 1932.

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CONTRASTE
O tom religioso nos retirantes de Sebastião Salgado (acima) e o erotismo de Helmut Newton

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Foi ao ver essa imagem que o fotógrafo americano de origem francesa Elliott Erwitt percebeu que poderia fazer mais com uma câmera que simplesmente retratos de noivas ou formandos. “Era uma cena que qualquer um podia ver ao passar. Logo não eram necessários modelos, cenários, nem nada especial, apenas uma maneira pessoal de ver as coisas. Aquilo me pareceu um procedimento interessante a seguir. Foi uma revelação”, escreveu Erwitt na abertura de seu livro. Entre as imagens selecionadas, um clássico: o flagrante de um casal se beijando em um carro, visto pelo retrovisor lateral. No extremo oposto estão as imagens eróticas e perversas do alemão Helmut Newton, o único fotógrafo de moda dessa primeira leva. “Adoro a vulgaridade”, diz ele de forma provocativa e coerente com seu estilo de impacto. Fechando o pacote, aparece o livro de Sebastião Salgado, em que se destacam as imagens de refugiados africanos, feitas nos anos 1980. Sobre essas fotos escreveu Christian Caujolle, na introdução: “Elas nos remetem a uma iconografia que não é a do humanitário, mas a do religioso.”

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INFLUÊNCIA
Um casal americano por Elliott Erwitt (acima) e um grupo de franceses na visão de Cartier-Bresson: naturalidade

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