Pequenos baús, grandes tesouros. Os baús, nesse acaso, pertencem ou pertenceram a diversos e geniais sambistas do Rio de Janeiro – assim como pequenas caixas de papelão e gavetas empoeiradas. Abram-se os baús, as caixas e as gavetas e neles serão encontradas partituras e letras inéditas desses sambistas. O arranjador Luiz Filipe de Lima e o produtor Alexandre Pimentel resolveram garimpar esse material para fazer uma série de shows. Resultado: de um conjunto de 300 músicas pesquisadas, 72 foram escolhidas para integrar parte do espetáculo Samba guardado (em cartaz às terças-feiras no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro). Além das composições dos próprios artistas que sobem ao palco (Nei Lopes, Monarco e Moacyr Luz, por exemplo), há pérolas de sambistas do passado – astros da estirpe de Cartola, Nelson Cavaquinho e Paulo da Portela. As fontes não são apenas as músicas registradas em papel. “Eu tinha algumas composições gravadas em fita, o Monarco lembra de cabeça de diversas delas”, diz a cantora Cristina Buarque, que se apresentou no segundo show dessa série.

O compositor Monarco, que não tem uma única célula de seu corpo que não seja azul e branco da Portela, desenterrou oito músicas desconhecidas do grande público, entre elas quatro sambas-enredo que disputaram e perderam na sua escola. “São sambas bonitos que continuariam esquecidos, não fosse esse projeto”, diz ele. Mas há também composições inéditas de excelentes artistas que ainda não são reconhecidos. Guardem-se esses nomes: Marcos Sacramento, Tantinho e Alfredo del Penho. Para o cantor e compositor Moacyr Luz, “a variedade de músicas novas e boas contradiz aqueles que acham que a música popular brasileira é atualmente um deserto no quesito criatividade”.