O festival do facão exibido pelo governo na semana que passou mostra que Lula continua firme em busca da credibilidade externa perdida. Em penosa demonstração de responsabilidade orçamentária, os ministros mãos-de-tesoura Palocci e Mantega, da Fazenda e do Planejamento, em reunião que demorou nove horas na segunda-feira 10, detalharam a seus pares como seria dividido o corte de R$ 14,1 bilhões. O Ministério não reagiu mal. Mas a ação drástica não foi precedida de alertas eficientes por parte do governo e, portanto, causou desânimo e perplexidade. E, também, alguma revolta. E esta transcendeu os longos e radicais cabelos do deputado petista paraense Babá e chegou à mídia e à opinião pública.
Dias depois, na cerimônia de instalação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o que deveria ter sido feito a priori o foi a posteriori e pela boca do presidente. Com a ressalva de que não se elegeu para lamentar a situação do País, mas, sim, para enfrentá-la, Lula disse que a situação é muito grave. Lembrou que herdou um quadro de extrema vulnerabilidade, com aumento da dívida pública, suspensão de linhas de crédito internacionais e o perigo da volta da inflação. Disse, ainda, que seu governo foi obrigado a tomar medidas duras, “algumas delas amargas”, para manter a política econômica sob controle.

A demonstração de responsabilidade do governo agrada a gregos,
mas desagrada a troianos. Se a credibilidade externa vem melhorando,
a interna nem tanto. A próxima reunião do Copom poderia apresentar
um antídoto para a insatisfação interna: juros mais baixos. É certo
que lá fora o momento é de adversidades, com a quase certeza de
uma nova guerra do Golfo, que, entre outras coisas ruins, tende a
piorar a situação cambial por aqui. Turbinado pelas altas da gasolina,
da escola e dos transportes, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação, atingiu preocupantes 2,19% em janeiro, quando dezembro registrou 1,83%. Mas, assim como meio ponto porcentual
de juros para o alto, como foi anunciado na última reunião do Copom, serviu para sinalizar ao mercado externo que somos dignos de credibilidade – e só para isso –, meio ponto para baixo também só funciona como sinal. A diferença é que agora quem precisa de bons
sinais é o público interno. Ele também é bastante importante e Lula
sabe disso melhor do que ninguém.