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AMEAÇA
Fungos já cobrem parte das pinturas na caverna espanhola

Desde 2002, a caverna de Altamira, no norte da Espanha, está fechada para visitação. Nas pedras de suas entranhas estão registradas pinturas rupestres de cerca de 14 mil anos. Trata-se de uma coleção de arte pré-histórica tão singular que o espaço é chamado de Capela Sistina da era paleolítica. Até 2002, centenas de milhares de turistas disputavam os 8,5 mil ingressos colocados anualmente à venda para uma visita ao local. Hoje, porém, até pesquisadores têm dificuldade para conseguir estudar as pinturas in loco. Segundo relatórios de comissões federais espanholas, a umidade e o dióxido de carbono produzidos pela respiração humana, as luzes artificiais usadas para iluminar as paredes e a elevação da temperatura média da caverna alteraram o ecossistema do espaço. Fungos até então inexistentes passaram a se proliferar, desgastando a tinta milenar. O fechamento foi o caminho escolhido pelo governo espanhol para conter a degradação do sítio. A decisão, porém, será revista em meados deste mês, quando a comissão que administra o local se reunirá para decidir o futuro do espaço. Muitos interesses estão em jogo e há vozes contrárias à abertura.

Altamira fica na região de Cantábria, que sempre se beneficiou do turismo que o sítio gerou. Portanto, não foi uma surpresa quando vieram a público, em 2010, notícias de que o governo regional estaria pressionando o Ministério da Cultura espanhol para reabrir a caverna. Os defensores da exposição questionam os métodos usados pelas comissões que avaliaram o impacto do trânsito humano no sítio. “A identificação dos fungos e das bactérias em ação em Altamira não foi cuidadosa o suficiente”, disse à ISTOÉ Robert Koestler, diretor do instituto de conservação do Museum Smithsonian, nos Estados Unidos.

Para ele, a instalação de filtros de ar e a aspersão de biocidas viabilizariam a retomada das visitas. “Altamira é uma caverna linda que mostra uma fase fascinante do desenvolvimento humano”, afirma. “As pessoas só entenderão a riqueza das pinturas com acesso ao original.” Os administradores de outros sítios com pinturas rupestres, principalmente na Europa, não compartilham dessa opinião. É o caso da caverna Chauvet, na França, cujo acesso, limitado a especialistas, só é permitido depois de muita burocracia. “Nossos relatórios reafirmam a necessidade de manter a gruta fechada”, afirmou à ISTOÉ Cesáreo Sáiz, do Conselho Nacional de Pesquisas da Espanha (CSIC). “Mas, em última instância, a caverna é do governo federal e a decisão será dele.” Como se vê, a polêmica está só começando.

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