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No final de outubro, o governo americano tomou uma decisão surpreendente. Em um relatório recheado de elogios, o escritório de Segurança e Reforço Ambiental do Departamento do Interior autorizou o retorno da petroleira British Petroleum aos trabalhos de perfuração nas águas profundas do Golfo do México. A licença, acompanhada de frases como “a BP tem cumprido todos os requisitos de segurança avançada que temos implementado”, permite à empresa voltar ao “local do crime”, para usar uma expressão usada por ecologistas. Em abril de 2010, a explosão da plataforma Deepwater Horizon se tornou um desastre ambiental de proporções inéditas, causou prejuízos bilionários, desgastes igualmente caros à imagem de uma companhia centenária e até levantou questionamentos sobre a conduta do presidente dos Estados Unidos. Em decorrência da tragédia, a exploração de petróleo na região foi suspensa e a concessão de licenças para novas perfurações – em qualquer lugar do planeta – passou a ser muito mais rigorosa.

A licença permite à BP perfurar um campo a 309 quilômetros da costa da Louisiana, nos Estados Unidos, em pleno coração do Golfo do México. Mas os planos da petroleira para a região são mais ambiciosos. Segundo o seu presidente-executivo, Robert Dudley, a expectativa da BP é de ter, em 2012, até oito plataformas de perfuração na área. A reação já começou. “Essa licença é um grande retrocesso para a política ambiental internacional”, diz Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de clima e energia do Greenpeace. “O Golfo do México ainda nem teve chance de se recuperar.” Leandra lembra que o relatório final da tragédia revelou que a companhia britânica e suas parceiras, Transocean e Halliburton, rotineiramente ignoravam regras de segurança para reduzir custos e impulsionar a produção. Será que esse relapso não vai se repetir?

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PLANOS
Robert Dudley, presidente-executivo da BP, planeja
operar até oito plataformas no Golfo do México em 2012

Além dos efeitos perversos da tragédia, a BP falhou grosseiramente nos dias que se seguiram à explosão de sua plataforma. A sequência de erros começou assim que a BP quis passar a responsabilidade para outras empresas. Em seguida, a tentativa foi minimizar o acidente, que, segundo o comunicado divulgado à época, causou “apenas” 11 mortes. As gafes de seu então presidente-executivo, Tony Hayward, foram um caso à parte. Em uma entrevista polêmica, Hayward disse que “não há ninguém que queira mais que isso acabe do que eu: quero minha vida de volta”, afirmou, como se ele tivesse sido vítima e não artífice do acidente. Hayward também foi responsável por pérolas como “o impacto ambiental deste desastre será muito modesto” e, no auge da crise, foi fotografado em seu iate durante uma regata na costa inglesa. “A tragédia é um passivo que a empresa vai carregar para sempre”, diz João José Forni, especialista em gerenciamento de crises. “Não dá para fingir que ele não existe.” Ciente de que páginas e perfis com críticas e ironias ao caso se multiplicavam nas redes sociais, a BP usou o mesmo meio para se reerguer. Seu perfil no Twitter se dedica a mostrar a restauração da costa atingida pelo vazamento, com fotos de praias limpas e relatórios que apontam uma suposta melhoria das condições ambientais da região. Mas o trabalho é longo. A página do Facebook “Boicote à BP” tem 800 mil fãs – quase oito vezes mais que a página oficial da empresa.

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