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Antes de construir Brasília, que se consolidou como efígie da arquitetura modernista brasileira, Juscelino Kubitschek, quando ainda era prefeito de Belo Horizonte, em 1942, convidou o arquiteto Oscar Niemeyer para fazer o projeto urbanístico de expansão da capital mineira. Imbuir as formas orgânicas da natureza de uma pureza geométrica foram algumas das primeiras propostas do projeto arquitetônico modernista brasileiro, iniciado no conjunto arquitetônico da Pampulha – como ficou conhecido o complexo de construções realizadas em torno da lagoa artificial de mesmo nome. Entre os edifícios está o atual Museu de Arte da Pampulha, inicialmente feito para funcionar como sede de um cassino, que teve suas atividades interrompidas em 1946. Questionar a ideologia estética desse conjunto arquitetônico e sua paisagem é um dos pretextos da série de trabalhos realizada pelo carioca Eduardo Coimbra no edifício do MAP.

A convite da curadora Renata Marquez, o artista, que há anos vem trabalhando a questão da paisagem na arte, realizou duas intervenções e uma série fotográfica buscando desconstruir o olhar do público visitante. Tal conceito está presente na primeira das intervenções, “Natureza da paisagem”, que traz para o andar térreo do museu, o gramado do jardim projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx. “O projeto de pureza modernista não se dá apenas nas construções, mas também na tentativa de organizar a natureza”, diz Coimbra. Já em “Visível/invisível”, ele dá continuidade a uma série fotográfica iniciada na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Para isso, ele utiliza a paisagem da Lagoa da Pampulha e do próprio museu, que também funciona como uma espécie de belvedere. Com ajuda de outros fotógrafos, foram realizadas panorâmicas simultâneas mostrando diferentes posições de um mesmo lugar: tanto da vista desde o museu quanto do ponto de vista oposto. “A paisagem é um produto híbrido. Tem-se a impressão de que é algo a ser olhado e frequentemente se esquece que ela é uma construção e fazemos parte dela”, argumenta Coimbra, que também adicionou uma série de espelhos que refletem a paisagem no interior do mezanino. “Eu queria criar uma relação especular que dissolvesse as antagonias entre natureza e arquitetura.”