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FAMA
O pianista Marcelo Zarvos conversou diretamente com Robert
De Niro para fazer a música de "O Bom Pastor" (foto, abaixo)

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O telefone toca e uma proposta de trabalho é oferecida: compor e gravar a trilha sonora para um filme importante de Hollywood. O prazo está apertado, é de apenas 15 dias, mas o cachê vale a pena. Detalhes discutidos, é a vez então de o diretor entrar na linha. Ele começa a falar. O tom de voz é mais do que conhecido. É a voz de Robert De Niro. A negociação se deu para o filme “O Bom Pastor”, dirigido pelo renomado ator americano. Quem estava do outro lado da ligação era o brasileiro residente em Nova York Marcelo Zarvos. Músico formado pelo California Institute of Arts, ele hoje é um renomado compositor de trilhas sonoras para cinema, se aventurando entre as produções independentes e os blockbusters.

Zarvos já tem incorporado à sua rotina lidar com estrelas de alto escalão. Jodie Foster foi uma de suas clientes no recente “Um Novo Despertar”, história de um CEO falido de uma empresa de brinquedos que resolve seus problemas ao usar um fantoche de castor como alterego. “Nos primeiros 30 minutos, tem-se a sensação de que se está ao lado de um astro, mas depois se pensa: ‘Ok, ela é uma diretora que quer uma música benfeita para o filme dela’”, diz Zarvos, 42 anos, que mora nos EUA desde 1988. “No caso da Jodie Foster, ela queria que a trilha tivesse um elemento de tango. E funcionava, acentuava o humor e o lado um pouco surreal do filme.”

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ESTRUTURA
Gui Amabis trabalhouna trilha do filme "Colateral" e se
surpreendeu com a organização e o respeito aos músicos nos EUA

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Antonio Pinto é outro brasileiro que enveredou pelos ares das colinas californianas. Ele é filho do cartunista Ziraldo e ganhou fama no Brasil pelas trilhas sonoras de “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”. Saiu do País para compor o fundo musical de longas como “O Amor nos Tempos do Cólera”, “Senna” e também “O Senhor das Armas”, sobre um negociante de armamentos vivido por Nicholas Cage. Ele levou consigo Gui Amabis, 35 anos, como músico adicional para o filme “Colateral”, com Tom Cruise e Jamie Foxx, e para “A Estranha Perfeita”, com Halle Berry. “Antonio é o responsável pela direção e em certo momento da trilha me convidou para compor algumas músicas”, diz Amabis, que nem sempre tem muito tempo para criar e gravar as canções – o prazo normal entre as negociações, ver o filme e entregar o trabalho pronto é de seis semanas, mas pode variar entre dez dias e um ano. “Depende do incêndio que você tem de apagar”, diz Amabis.

O envolvimento do diretor é diversificado de acordo com seu estilo – nem todos são como Jodie Foster ou Robert De Niro. “Participei de três produções. Na primeira, eu só tive contato com a supervisora musical e o editor musical, que levam seu trabalho e o colocam no filme que quiserem”, diz Amabis: “Já Andrew Niccol (“O Senhor das Armas”) ficou com a gente em Los Angeles e em Seattle enquanto gravávamos. A relação foi bem próxima.” Mesmo sob supervisão a todo momento, o músico garante que sobra espaço para a liberdade de criação, mas sem esquecer de que quem dá a palavra final é o diretor. E também a inicial. Na maioria das vezes, os compositores recebem o corte inicial do filme com ideias de músicas, as chamadas “Temp Score”, um tipo de som para direcionar o músico ao encontro da vontade do diretor.

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EXPERIENTE
Antonio Pinto chegou prestigiado a Hollywood pelos trabalhos em "Central
do Brasil" e "Cidade de Deus" e compôs para "O Senhor das Armas" (foto)

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“Às vezes, acontece de ele se apaixonar por uma música famosa, mas não querer comprá-la, e o músico acaba fazendo algo naquela linha”, diz Amabis. Saído dos palcos diretamente para os estúdios cinematográficos de gravação, Zarvos, que também compõe para companhias de dança, balé e orquestras, ainda sente falta das turnês. “Cedo ou tarde, vou acabar voltando para essa vida”, diz ele. Já Amabis, enquanto aguarda outro convite de Antonio Pinto para trabalhar na América do Norte, divulga seu recém-lançado álbum solo, o elogiado “Memórias Luso-Africanas”. E, assim, os músicos brasileiros bem-sucedidos no cinema hollywoodiano vão tocando a vida, cada um em sua cidade, à espera de telefonemas de mais um diretor com voz conhecida.