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O garoto Neymar não mexeu apenas com a expectativa sobre a Seleção Brasileira na Copa de 2010, com a noção do que é marketing esportivo no Brasil ou com os patamares de salários (e cachês publicitários) de jogadores de futebol do País. Ele mexeu definitivamente com a cabeça da molecada de cima abaixo do mapa, seja no sentido figurado, seja no literal. Vamos então ao segundo.

Por onde quer que se vá, passam poucos minutos, segundos às vezes, até que cruzemos com um garoto ainda adolescente, ostentando orgulhoso um penacho descolorido, um corte escovinha com a parte alta em tons de marrom, um rabo de esquilo bem tratado sobre o crânio, ou outras dezenas de variações sobre o tema “tratamento e tintura capilar e recortes diversos das pilosidades crânio-faciais”. Todos eles de alguma forma influenciados pelo craque (até agora) santista.

O fato é que Neymar, talvez sem saber, está fazendo com que a garotada com ascendência afro passe a aprender a tratar e a se orgulhar de seus cabelos. Tudo bem que escovas, cremes, alisamentos e muita tinta estejam envolvidos no processo como aliás sempre estiveram entre jovens de todas as etnias, mas o que se vê aos montes hoje, especialmente nas periferias, são garotos, que antes escondiam seus cabelos sob bonés e/ou máquinas zero, dando um trato no material genético e se orgulhando de si mesmos.

A foto que você vê ao lado faz parte de um ensaio produzido pela fotógrafa Carol Quintanilha, num salão de Jurunas, bairro mais populoso de Belém do Pará. Segundo ela, o salão, aberto há quatro anos, viu seu movimento subir muito depois que Neymar (e seu moicano tropical) acabou definitivamente com o preconceito de que o homem da raça negra não deva ser vaidoso ou ousar com seus cabelos.

Os cortes a R$ 7 do salão produzem filas grandes de meninos, que querem dar um trato no telhado, fazer touca, tinturas e desenhar os pelos faciais em forma de barbinhas riscadas e bigodes de nanquim para, segundo eles, se tornarem mais sensuais, confiantes e atraentes.

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A lamentável e também preconceituosa expressão “cabelo ruim” usada para descrever cabelos que não obedeçam aos padrões lisos/caucasianos, parece estar sendo lentamente enterrada, gostem ou não os críticos do “hair style” do garoto de ouro do Santos. E, o que é ainda melhor, sua cabeleira passa cada vez mais a ser referência nos colégios e shopping centers por onde desfila a molecada rica brasileira que torra a mesada em gel para tentar engrossar os fios e segurar o moicano avante e acima. 

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente


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