A ciência brasileira sempre foi marcada pela evasão de cérebros. Agora a mina de ouro está em percorrer o caminho inverso. Depois de se especializar no Exterior, os cinco pesquisadores que colocaram o Brasil no mapa mundial da genética ao liderar os estudos para identificar os genes da bactéria arrasadora dos laranjais, a Xyllela fastidiosa, viraram empresários. Convencida de que os fundos mais bem-sucedidos operam com descobertas científicas, a Votorantim Ventures, braço de investimentos do grupo Votorantim, transformou em sócios da empresa Alellyx esses cientistas, que integram os quadros das universidades paulistas USP, Unesp e Unicamp. Com recursos de R$ 30 milhões, o time terá como missão aumentar a qualidade, a produtividade e a competitividade de cinco valiosos itens da lista de exportações agrícolas: soja, laranja, uva, eucalipto e cana-de-açúcar.

“A ciência nacional atingiu sua maturidade e a iniciativa privada começa a perceber que tem coisa muito boa nas universidades”, afirma o biólogo Fernando Reinach, presidente interino da Alellyx, que nada mais é do que a palavra xylella lida de trás para a frente. Num prazo de dois a dez anos, os estudos devem gerar patentes de produtos para se aplicar à agricultura. Instalada num laboratório em Campinas, com uma equipe de 40 cientistas, a Alellyx quer transformar o acervo genético em dinheiro. Uma forma é tornar as culturas agrícolas mais resistentes a pragas. As técnicas são inúmeras. “Há árvores de eucalipto com mutação natural que não se deixam infectar por bactérias nem ter as folhas comidas por formigas. Elas serão clonadas ou cruzadas com outras plantas com características de resistência”, explica a bioquímica Ana Cláudia Rasera, uma das sócias da Alellyx. A técnica de transferência do gene de um organismo para outro – a mesma dos transgênicos – não está descartada. Mas não será o foco das pesquisas enquanto a polêmica em torno dos alimentos geneticamente modificados não se resolver. Até o momento, eles são proibidos no Brasil por se desconhecer seus efeitos sobre o homem e o meio ambiente.

Plantados clandestinamente, os transgênicos foram o centro das atenções na semana passada, quando agricultores gaúchos colocaram 260 tratores nas ruas pedindo sua liberação. Na terça-feira 12, uma comissão especial da Câmara aprovou, simbolicamente e sob pancadaria, o projeto do deputado federal Confúcio Moura (PMDB-RO), que fortalece o poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) de autorizar o comércio de transgênicos sem a obrigatoriedade de um estudo prévio de impacto ambiental da colheita. O projeto ainda deve ser submetido à aprovação dos deputados e senadores.