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FANTASIA
Por 15 minutos de encenação, lutadores ganham
cachês que variam de US$ 10 a US$ 1 mil

Na entrada, crianças pintam o corpo para homenagear seus ídolos, casais mascarados se beijam e grupos organizam cânticos. Dentro do ginásio, uma banda de dez integrantes anima a plateia, vendedores desfilam com donuts e pipocas em condições higiênicas preocupantes e uma moça de shortinho e hábito de freira anuncia a sequência de rounds. Esse é o cenário de uma noite na Arena Coliseo, templo da “lucha libre” em Guadalajara. Há 40 anos, o estabelecimento vem mantendo seus seis mil lugares ocupados durante três noites por semana.

Tudo é planejado para passar a impressão de que são genuínos os sopapos trocados no ringue. “Aqui os lutadores se misturam, brincam entre si, mas entram por portas separadas”, diz, enquanto exibe os vestiários, Rubén “Pato” Soria, diretor-geral da arena e ex-lutador. “Numa porta vão os bons e na outra, os maus.” Esse é o primeiro truque engolido deliciosamente pelos torcedores. Ao entrar na passarela que os leva ao ringue, os atletas dão início a um processo que leva a plateia a vários clímax de histeria no mesmo round.

Muito do frenesi tem pouco a ver com as coreografias combinadas entre os “adversários”. Os torcedores ficam divididos entre os das numeradas e os das gerais. Estes últimos se acomodam em pé atrás de um alambrado de arame. Lubrificados pela cerveja, eles começam a puxar hinos que basicamente ofendem a mãe de quem acompanha os duelos nas cadeiras. A resposta também vem em forma de cântico, lembrando que o pessoal dos assentos populares terão de usar transporte público para voltar para casa.

A lucha libre é um dos “esportes” mais democráticos. Gente com dezenas de quilos acima do peso ideal, mulheres e anões participam das pelejas. Pelos cerca de 15 minutos de encenação, os lutadores ganham cachês que vão de cerca de US$ 10 a US$ 1 mil, dependendo da fama. Nenhum deles fica milionário, mas não pensam em abandonar a carreira. “Se eu não fosse lutador, me mataria para renascer no ringue”, diz Shocker, um dos maiores astros locais e estrela do programa “El Luchador”, que o canal pago A&E estreia em novembro. Ele é filho do diretor-geral e seu nome verdadeiro é um atestado do amor que o povo de Guadalajara tem pelos brasileiros desde que a seleção escolheu a cidade como sede na Copa de 70. Shocker se chama José Jairzinho Soria. O atacante Jairzinho, não custa lembrar, foi artilheiro do Brasil na competição, com sete gols.

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