img1.jpg
DESBRAVADORES
Embarcações russas rasgam o gelo no Mar de Lincoln, no Ártico

Quem faz e propagandeia produtos e serviços ditos sustentáveis não são os únicos que estão lucrando com o aquecimento global. Além deles – e dos empresários que vendem créditos de carbono –, as mudanças climáticas estão ajudando aqueles que se beneficiam diretamente da relação entre calor e dinheiro. Com o derretimento do gelo do Polo Norte, o Oceano Ártico – antes debaixo de uma camada de gelo – se tornou um mar de oportunidades para empresas que transportam mercadorias no Hemisfério Norte.

“O Ártico é o atalho entre os maiores mercados da Europa e da Ásia”, disse recentemente o primeiro-ministro russo Vladimir Putin. “Trata-se de uma excelente oportunidade para otimizar custos.” A Rússia é um dos maiores interessados na nova fase do gelo ártico. Em algumas rotas, a viagem pelo topo do país se tornou competitiva quando comparada à passagem da Europa para a Ásia pelo canal de Suez, por exemplo. De acordo com o ministério dos transportes russo, a viagem de Roterdã (Holanda) para Yokohama (Japão), pela passagem Nordeste, na costa da Rússia, é cerca de 7 mil quilômetros mais curta do que pelo conhecido canal que divide a África e o Oriente Médio.

O primeiro uso dessa nova rota marítima, no entanto, é para dar suporte às indústrias que rumam para o Polo Norte, como as de mineração e exploração de petróleo. A empresa norueguesa Tschudi, por exemplo, comprou e reativou uma mina no norte do país para vender minério para a China pela passagem Nordeste. Uma viagem que antes demorava 37 dias até a cidade chinesa de Lianyungang, por exemplo, agora leva 21. A economia, segundo executivos da companhia, é de US$ 300 mil dólares por viagem.

img.jpg
OURO NEGRO
Instalações da petrolífera BP no Alasca

Empresas da Dinamarca, outro dos oito países que possuem território no Polo Norte, também relataram recentemente uma economia considerável ao usar a nova rota. A Nordic Bulk Carriers, por exemplo, garante ter reduzido a um terço do custo atual o transporte de bens para a China, via Ártico. “Economizamos mil toneladas de combustível – cerca de 3 mil toneladas a menos de CO2 lançadas na atmosfera – numa viagem entre a cidade russa de Murmansk e o norte da China”, disse Christian Bonfils, diretor da empresa, ao jornal britânico “The Guardian”.

Os ambientalistas veem a nova fronteira marítima com reservas. O argumento é de que uma corrida marítima pelo Ártico pode acelerar o aquecimento global. Embora reconheçam que os navios queimarão menos combustível e emitirão menos carbono, eles temem vazamentos de óleo e outros acidentes marítimos, assim como o “carbono negro”, resíduo da queima incompleta de combustíveis que acelera o aquecimento global.

De toda forma, será difícil conter a euforia dos navegadores e exploradores de petróleo nesse, até então, inóspito território. Num claro sinal de que o Ártico está entrando no mapa, os navios quebra-gelo russos – que abrem caminho para outras embarcações, como bem indica o nome – receberam 15 solicitações para escoltar viagens em 2011, contra apenas quatro no ano passado. Especialistas estimam que 2% da navegação global deve ser desviada para os mares árticos até 2030, aumentando para 5% até 2050. O Polo Norte, definitivamente, nunca mais será o mesmo. 

img2.jpg

selo.jpg          pat.jpg