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Ex-editor do jornal romano “Avanti”, Lavitola era quem
agenciava meninas para as festinhas de Berlusconi

Um poderoso cidadão italiano, envolvido até a raiz dos cabelos castanhos em negócios obscuros, circulava quase anônimo pelo Brasil até dois meses atrás. Conhecido em seu país pela proximidade com o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, Valter Lavitola, 45 anos, era tido como um simples empresário, dono da empresa Pesqueira de Barra de São João Ltda., no município fluminense de Casimiro de Abreu. Na verdade, por trás dessa atividade, ele exercia uma outra função: a de agenciar meninas para as famosas festinhas organizadas por Berlusconi, que, segundo a Justiça italiana, chegou a gastar 3 milhões de euros com dançarinas e atrizes. Mesmo assim, Lavitola passeou por quase dez anos praticamente sem ser notado por cidades praianas do Rio de Janeiro, pela capital paulista e também por Manaus. Mas a vida tranquila que ele levava aqui acabou porque ele quis ser esperto demais. Durante uma negociação com garotas de programa, Lavitola extorquiu Berlusconi e, por esse motivo, teve a prisão decretada na Itália. No total, teria levado US$ 1 milhão do político. Com isso, foi protocolado contra ele um pedido de extradição no Supremo Tribunal Federal e ele desapareceu do Brasil. Um de seus últimos encontros conhecidos aqui ocorreu em agosto com o conterrâneo e sócio Enzo Roncolato, no Rio. “Almoçamos juntos e depois ele foi para o aeroporto”, contou Roncolato à ISTOÉ, por telefone, de sua casa na praia de Barra do Furado, na cidade de Campos. Roncolato atribui as acusações contra Lavitola às intrigas partidárias. “A política italiana é muito complicada. É tudo uma porcaria.”

A discrição de Lavitola foi quebrada, e as autoridades italianas descobriram que ele estava no Brasil, quando, durante a visita de Berlusconi a São Paulo, ele organizou uma apresentação de seis lindas mulheres vestidas com trajes sensuais e se contorcendo em pole dance para o primeiro-ministro, na suíte do luxuoso hotel Tivoli Mofarrej. A festa virou notícia nos jornais de todo o mundo e Lavitola perdeu o anonimato em terras brasileiras. “Foi ele quem conduziu tudo, explicou como deveria ser a apresentação e como deveríamos nos vestir”, disse à ISTOÉ a dançarina Alexandra Valença, que naquela noite executou sua performance ao som de um tango.

Descrito como um homem sereno e de fala pausada,Valterino, como também o chamam, era jornalista (hoje, seu registro está cassado) e atuou como diretor do jornal romano “Avanti”. Apresenta-se, atualmente, apenas como empresário. Nos últimos anos, Lavitola se esforçou para passar despercebido pelo Brasil. Em São Paulo ou no Rio, ele não frequentava as altas rodas, preferia as praias mais vazias de Búzios ou da região norte fluminense. Pelo menos até a apresentação das garotas para Berlusconi, ele cumpriu bem o seu objetivo. Mas, ao que parece, o foragido sempre foi predestinado a se envolver em confusões. No ano passado, enquanto Lavitola tentava circular sem fazer muito alarde por aqui, na Itália e em países da Europa seu nome ocupava as manchetes dos jornais. Desta vez, pela via indireta. Em junho de 2010, o ex-amigo de Berlusconi, foi coadjuvante de outro fato de repercussão internacional. Em duas conversas telefônicas com ele, que teve os diálogos grampeados, o premiê mostrou, em desabafos, quanto pode ser rasteiro ao declarar sentimentos. Numa ligação, refere-se à Itália como “um país de merda”. Em outra, faz comentários desrespeitosos sobre a chanceler alemã, Angela Merkel, a quem chama de “bunduda incomível”. Não se sabe ao certo se Lavitola estava no Brasil quando ocorreram os dois diálogos. “Ele costumava ficar aqui por uma semana, depois ia embora”, conta Roncolato.

A empresa de exportação de peixes que ele abriu no Brasil sempre recebeu grandes encomendas da Itália, pagas em milhares de euros. O preço alto se justificaria por fazer processamento de pescado vindo da Europa. Moradores de Casimiro de Abreu, no entanto, garantem que os frutos do mar usados ali são fornecidos por pescadores locais. A polícia investiga se a empresa foi usada para lavar dinheiro. Funcionários ouvidos por ISTOÉ disseram que a empresa não é mais dele. Roncolato confirma: “Ele tinha 90% e eu 10%, mas vendemos nossas partes há quatro anos.” Em vários sites de comércio exterior, no entanto, Roncolato continua aparecendo como principal executivo. Aliás, a trajetória desse parceiro de Lavitola no Brasil também é turbulenta. Há dez anos, foi condenado por comprar um bebê de dois meses para apresentar como filho e legalizar sua situação no Brasil. Além disso, foi acusado de pedofilia e abuso de menores. Cumpriu pena e, hoje, é casado e pai de uma filha. Diz trabalhar no ramo imobiliário no norte fluminense. Sobre o paradeiro do amigo ele alega nada saber.

Na Itália, Lavitola é tido como amigo de arapongas e de integrantes da Camorra, a máfia napolitana. Segundo a Procuradoria de Nápoles, um dos operadores de Berlusconi, Gianpaolo Tarantini, fornecia prostitutas ao premiê e acabou preso. Lavitola seria o intermediário entre Berlusconi e Tarantini. O segundo extorquia o primeiro e Lavitola levava parte do dinheiro dessa ação criminosa. Talvez o premiê e Lavitola pensem como Roncolato, que exprime sua opinião sem pudores: “A vida na Itália era tão boa, mas a magistratura estragou tudo.” Não fosse essa mesma Justiça italiana, Lavitola ainda estaria circulando tranquilamente pelo Brasil.

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