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SINA
Marilyn Monroe em foto de Cecil Beaton:
segundo Diana, ela era sensual como uma gueixa
e nasceu para inspirar o prazer

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Perguntaram o que é elegância à Diana Vreeland (1903-1989), uma das maiores especialistas em moda e figura-chave à frente das revistas “Vogue” e “Harper’s Bazaar”. A resposta, que em sua fina for­mulação já encerrava a própria réplica, veio simples e sem floreios: “É uma qualidade que possuem certos pensamentos e certos animais”. Essa frase está no livro “Glamour” (Cosac Naify), a bíblia do estilo que Diana produziu a pedido de outro ícone da elegância, a ex-primeira-dama americana Jacqueline Kennedy, sua editora na época. Publicado pela primeira vez no País, o volume de capadura e edição requintada reúne 170 imagens de fotógrafos famosos como Richard Avedon, Cecil Beaton e Irving Penn, publicadas ao lado de clics de anônimos e paparazzi. Os retratados são, em sua maioria, personalidades do meio artístico, como as atrizes Greta Garbo e Marilyn Monroe ou os bailarinos Nijisnki e Maya Plisetskaia. Mas comparecem na seleção também estadistas do porte do general francês Charles de Gaulle ou da ex-presidente da Argentina Evita Perón. Todos eles teriam essa qualidade que estaria além das boas maneiras e do brilho pessoal – tinham glamour.

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Apesar de ser à primeira vista um livro de fotos, a obra permite uma leitura pontuada de pausas e pequenas divagações, já que Diana comenta as imagens com digressões brilhantes e por meio de aforismos, aquelas frases curtas que encerram todo um pensamento. Lembra o Roland Barthes de “A Câmera Clara”. Eis o que ela afirma, por exemplo, sobre Marilyn Monroe: “Essa era uma gueixa. Nasceu para proporcionar o prazer e passou a vida fazendo isso. Que desperdício!” O comentário acompanha um retrato que mostra a atriz enrolada em véus sobre uma colcha japonesa, imagem de autoria de um de seus fotógrafos preferidos, o inglês Cecil Beaton, talvez o único mestre das câmeras a receber o título de Sir. Sobre as fotos de Beaton, a editora de moda (que mais tarde trabalhou como consultora no Metropolitan Museum of Art, de Nova York) afirma serem “opalescentes”, por terem uma luz “que emana de um opala”. É do fotógrafo inglês mais um retrato no livro, o da atriz Audrey Hepburn, a “bonequinha de luxo”, flagrada no esplendor da juventude, antes de rodar o filme que lhe deu fama. “As gazelas são elegantes. E também Audrey Hepburn ­– de maneira magnífica”, observa a autora.

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Nascida em Paris e criada nos EUA, Vreeland frequentava a alta roda e compartilhou da companhia de pessoas reservadas como Greta Garbo, ilustrada em fotos de paparazzi. Escreve Diana: “Quero falar sobre a maneira como ela (Greta Garbo) mantém a boca quando está falando com você. Não consigo explicar direito o que ela faz. Se conseguisse dizer o que é, eu mesma poderia fazer.” Como se vê, o glamour para Diana Vreeland é aquele “mais” que transforma celebridades em mitos. Caso, por exemplo, de Evita Perón, equiparada a uma “efígie de moeda” na foto que a mostra em seu leito de morte. Acostumada a lidar o tempo todo com o capricho das estrelas (“odeio o narcisismo, mas vejo com bons olhos a vaidade” é uma de suas frases célebres), Diana já tinha como certo nessa época (anos 1980) o advento da cultura da celebridade, hoje incontornável. Conta que um amigo teria perguntado a Evita por que ela se mantinha pesadamente maquiada, como se a qualquer momento fosse alvo das câmeras de tevê. “Na tela, 20 milhões de pessoas vão me achar de uma beleza dilacerante e estrondosa”, teria dito a estadista argentina. Sem ingenuidade, Diana detecta aqui outra faceta do glamour: a sedução do poder.

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ELEGANTES
Audrey Hepburn (no alto), Fred Astaire e um grupo
de banhistas: delicadeza de gestos, linhas e formas