Ao promover o corte no Orçamento de 2003, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, afirma que os R$ 14,1 bilhões a menos foram necessários para deixar o País preparado para a iminente guerra do Iraque. Em entrevista a ISTOÉ na quinta-feira 13, Mantega deixou claro que o governo não esqueceu que Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para fazer mudanças no País e que as diferenças entre a atual administração e a anterior, do tucano FHC, logo, logo vão aparecer. Mas ele não arrisca um prazo. Primeiro era necessário preparar o País para a guerra.

ISTOÉ – Os cortes atingem principalmente os investimentos. Isso não vai contra os princípios do governo?
Mantega –
Suspendemos obras novas, o que é normal, uma regra universal. Priorizamos os projetos sociais. A questão é que encontramos um orçamento cuja receita não cobria a despesa. Tivemos que reduzir provisoriamente uma parte dos gastos. Por enquanto não há recursos, mas poderá haver no futuro.

ISTOÉ – O sr. diz que a área social foi preservada, mas
os ministérios sociais foram atingidos. O Fome Zero perdeu
R$ 100 milhões.
Mantega –
Há uma seca no Nordeste e o próprio ministro José Graziano (da Segurança Alimentar) pediu, em janeiro, que fossem repassados
R$ 105 milhões para o bolsa-renda, que é uma ação do Fome Zero. Não houve contingenciamento neste e em nenhum outro programa dos Ministérios sociais. O programa de erradicação do trabalho infantil, o bolsa-renda, o bolsa-escola, todos foram preservados. O que houve foi um contingenciamento nos gastos de custeio – como contratação de serviços bancários, de limpeza – dentro dos programas.

ISTOÉ – Ministérios como o das Cidades e da Integração sofreram cortes superiores a 80%. Os ministros não ficaram contrariados?
Mantega –
Apresentei os critérios na reunião ministerial. Foram 15% de contingenciamento no custeio e 80% nos projetos. Todos compreenderam a lógica. São Ministérios que concentravam muitas obras novas. Por isso sofreram contingenciamento maior. Além disso, metade desse contingenciamento é originária de emendas parlamentares. Ao aprovar o Orçamento, o Legislativo recalculou a receita e achou uma sobra que, na verdade, não existe. E o Executivo subestimou as despesas com previdência e salários. Foram R$ 11 bilhões só por conta disso.

ISTOÉ – A primeira coisa que o sr., um ministro de esquerda, fez foi realizar um dos maiores cortes da história. Como o sr. se sente?
Mantega –
Eu preferia que houvesse dinheiro sobrando, mas há
muito tempo não se vê uma situação favorável nos governos.
Quando a esquerda assumiu na Itália, encontrou um déficit público
de mais de 100% do PIB.

ISTOÉ – Com a perspectiva de guerra no Iraque,
o cenário não é de piora?
Mantega –
Justamente em função desse cenário mais crítico tomamos as medidas. Isso nos coloca em uma situação mais favorável para enfrentar dificuldades que a guerra possa trazer.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

ISTOÉ – O limite do mínimo é R$ 234?
Mantega –
Não. É o que o presidente determinar em abril.
O que for, vamos viabilizar.

ISTOÉ – Os críticos vêm acusando a equipe econômica
de ser bem parecida com a do governo FHC. O que o sr. acha
dessa comparação?
Mantega –
Não tem nada de parecida. Ter contas equilibradas não é característica do governo FHC. É característica de qualquer governo responsável. Além disso, o Fome Zero não existia no governo anterior. Temos uma política de comércio exterior mais agressiva, teremos política industrial, vamos fazer planejamento de longo prazo que não existia neste país. Talvez as diferenças não estejam nítidas nestes primeiros 40 dias de governo, mas, com paciência, vão aparecer. Todo o esforço é para fazer com que a taxa de juros caia o mais rápido possível.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias