Arca russa (em cartaz em São Paulo na sexta-feira 21) – É praticamente um plano-sequência de 97 minutos o que o russo Aleksandr Sokúrov faz ao guiar com brilhantismo sua câmera por 35 salas do museu Hermitage, em São Petersburgo, antigo Palácio de Inverno dos czares. O fabuloso passeio, que mistura flagrantes atuais com eventos históricos, é conduzido por um nobre francês de ares vampirescos (Sergei Dontsov), num constante diálogo com um narrador russo invisível. Em meio a comentários sobre obras-primas de Tintoretto, El Greco, Rembrandt e Van Dyck, figuras fantasmagóricas, como uma guia cega, e tipos estranhos, como um médico “cheirando a formol”, cruzam a tela, denunciando o lado necrófilo da empreitada. Personagens importantes da história local também marcam presença, entre eles Pedro, o Grande, Catarina II e Nicolau II. Ao final, um grande baile fecha com chave de ouro este vasto e magnífico travelling sobre a cultura russa.
(Ivan Cláudio)

Live in Montreal, com Marcos Valle e Victor Biglione (Rob Digital) – A carreira do carioca Marcos Valle é dividida em fases definidas, sempre tendo o irmão Paulo Sérgio como colaborador e letrista. Na primeira delas, criou pérolas como Samba de verão, Preciso aprender a ser só, Gente e Viola enluarada. Depois, tornou-se mais “comercial” – é deste período Mustang cor de sangue – e, a partir dos anos 80, ganhou status de compositor cult entre a turma da new bossa eletrônica dos quatro continentes. Neste show gravado ao vivo no Canadá, em 2000, com a participação no violão do guitarrista portenho-carioca Victor Biglione, o compositor e cantor apresenta uma panorâmica da obra da dupla, acompanhado de músicos canadenses e da cantora brasileira Patrícia Alvi. É um disco agradável, cujo repertório inclui até a engajada Terra de ninguém em ritmo funk. Heresia que deve deixar a ala radical do PT raivosa o suficiente para convocar uma passeata. (Luiz Chagas)


Executivos (São Paulo, Espaço Promon) – Sob o olhar cínico e vaidoso do presidente Montparnasse (Zecarlos Machado), os diretores de uma firma francesa de armamentos pesados se engalfinham numa luta pelo poder. O vice Bercy (Riba Carlovich) assiste a tudo impassível, enquanto Odeon (Cacá Amaral) e Châtelet (Norival Rizzo) são engabelados por Denfert (Hélio Cícero). Entre uma e outra falcatrua, todos cortejam e invejam Grenelle (Chris Couto), a executiva fria. Assim é o enredo da nova peça do paulistano Grupo Tapa, dirigido por Eduardo Tolentino, que prossegue com sua investigação das classes dominantes depois de Major Bárbara, de Bernard Shaw, e A importância de ser fiel, de Oscar Wilde. O texto do francês Daniel Besse, que provoca risos nervosos na platéia tamanha a crueza das manipulações, coloca a nu a baixeza a que o ser humano pode chegar para galgar uma posição ou simplesmente manter-se onde está. Executivos ainda marca o retorno aos palcos da ex-VJ Chris Couto e a estréia do excelente Hélio Cícero na trupe de Tolentino. (Luiz Chagas)


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias