A casa 31-A da rua Florestal é pobre e apertada demais para seis pessoas, mas sobra um cantinho para a viola clássica. A casa fica na favela de Heliópolis, uma das maiores do Brasil, com cerca de 80 mil favelados. Entre a gente muito pobre da favela vive a dona da viola: Graziela Oliveira Teixeira. Ela tem 18 anos e uma filha que ainda não fez dois. Tem uma mãe desempregada e dois irmãos desempregados. Tem também uma tia. Todos eles são os que se apertam na casa da favela que guarda também a viola – a mãe, a filhinha de Graziela e um dos irmãos dormem numa cama, Graziela e o outro irmão dormem na outra. A tia dorme sozinha. Não é raro nas noites de Heliópolis passear pelo ar o Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4 (Heitor Villa Lobos). É Graziela que está solando a sua viola clássica. Num vídeo que homenageia o pianista João Carlos Martins (um dos melhores do mundo), em breve a França, a Dinamarca, a Finlândia, a Noruega, Portugal e EUA também vão ouvi-la.

ISTOÉ – Você não teme essa glória hoje
e o esquecimento amanhã?
Graziela
– Não. Eu vou triunfar. Para isso estudo oito horas por dia e até já compus uma música para a minha filha Danielly.

“Ela tem potencial para ser uma solista profissional de qualquer orquestra do mundo”
Maestro Silvio Baccarelli, criador do projeto social que cuida de adolescentes e jovens de Heliópolis