Esta semana fomos todos submetidos a mais uma estarrecedora exibição de barbárie explícita. Como contribuição para a rotina de violência instalada, um casal de músicos de Campinas, Sara e Alexandre Alvarenga, largou seu Fiat Palio no meio de uma tranquila rua em Campinas e, em total desvario, arremessou seu filho, José Alexandre, de um ano, contra o pára-brisa de um carro que passava. Agarraram Alessa, sua outra filha de seis anos, e, repetidamente, bateram a cabeça da menina contra uma árvore. O menino quebrou o vidro da blaser, ocupada por um casal de perplexos idosos, e sofreu traumatismo na base do crânio. Para serem presos, os pais (pais???) precisaram ser sedados.

O triste episódio reitera, inapelavelmente, os poucos limites que restaram. Se é que restaram alguns. Mostra que os tabus vêm sendo, nas últimas décadas, caprichosamente derrubados. E que o episódio das torres de Nova York é, somente, o exemplo mais simbólico e veemente disso. Por outro lado, a outrora tímida curiosidade em saber detalhes de eventos trágicos hoje se transformou em voraz apetite. O tabu de olhar determinadas cenas também ruiu. E a internet é a estrada preferida para o tráfego da sujeira proibida. O caso do cirurgião plástico que desconstruiu a amante e depois a transportou em sacos plásticos para o porta-malas do carro, em São Paulo, foi devidamente divulgado em seus detalhes mais sórdidos pela rede. Não fosse suficientemente horripilante a história do crime, fotos do que sobrou da namorada do assassino foram de alguma maneira escamoteadas do Instituto Médico Legal de São Paulo e inundaram computadores pelo Brasil, provocando horror e náusea.

O caso do jornalista americano David Pearl, do The Wall Street Journal, é outro melancólico exemplo. Preso no Paquistão, no ano passado, ele foi degolado por três homens presumivelmente da al-Qaeda. Um deles segurou o jornalista, o outro usou a faca e o terceiro… uma filmadora. As cenas do bárbaro crime invadiram a internet, em violação atroz e nauseante, transformando a câmera em arma tão cruel e eficaz quanto a faca. A pergunta recorrente é: “Para onde vamos?”

Jorge Forbes, psicanalista da Escola Européia de Psicanálise, dá algumas pistas. Para ele, hoje não existem mais os bons e velhos parâmetros fixos, estáveis e valorizados para orientar as pessoas. Como o conceito de família. Segundo ele, o homem precisa aprender a lidar com as possibilidades do novo mundo e criar um novo manual: “A vaca sabe ser vaca. Mas o homem precisa de bula para ser homem.”