O medo de envelhecer com uma renda mensal que pode provocar o imediato empobrecimento tem causado uma acelerada corrida dos brasileiros da classe média, principalmente, à previdência privada. Somem-se a esse temor real planos mais flexíveis que os tradicionais, taxas mais em conta e menos riscos e tem-se uma explosão do mercado. Nos últimos dois anos, o setor de previdência privada cresceu a uma base de 40% ao ano. Contando apenas as carteiras do Banco do Brasil e do Bradesco, são mais de dois milhões de pessoas que pingam alguma quantia mensalmente para garantir um lugar ao sol quando a terceira idade chegar ou,
para as crianças e jovens, a chance de guardar dinheiro para
realizar um sonho mais para a frente. Seu filho recém-nascido
pode entrar nessa, assim como a avó de seu filho, que acha
que não dá mais tempo. Custa caro, mas dá.

Quem não se preparar terá de se contentar com o teto do benefício da Previdência Social (INSS) – hoje fixado em pouco mais de R$ 1,5 mil. Engordar essa renda exige um pouco de planejamento e atenção na hora de escolher o melhor produto para o próprio perfil. “O segredo é começar cedo”, diz o coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, William Eid Jr. De fato, quanto mais cedo começar a poupança, menor o valor da contribuição e maior o benefício.

Mas é preciso ter cuidado para não embarcar em um plano ou fundo
que se torne um grande aborrecimento no futuro. Escolher uma instituição reconhecidamente sólida é primordial, já que um plano de previdência envolve um contrato de décadas. “Os grandes bancos hoje têm reservas e são fiscalizados constantemente”, atesta o consultor financeiro pessoal Louis Frankenberg.

Escolhido o parceiro na empreitada, é hora de pegar a calculadora e tomar algumas decisões. A primeira delas é fixar o nível de contribuição em, no máximo, 12% de sua renda anual bruta. O porcentual, fixado
por lei, pode ser abatido do Imposto de Renda durante todo o período
da formação da poupança. O valor abatido será, na verdade, devolvido pelo contribuinte ao Fisco no momento de receber o benefício. “É importante que o desembolso mensal não represente um sacrifício”,
afirma Frankenberg. Ou seja: só encare para valer um plano se
tiver folgas no orçamento.

O próximo passo é questionar a respeito das taxas embutidas nos planos. O Brasil, mesmo com o avanço dos últimos anos, ainda não tem uma escala comparável à dos países desenvolvidos, o que torna as taxas relativamente elevadas. “Hoje já é possível negociar uma taxa menor de administração de acordo com a contribuição mensal”, diz Hércules Xavier, gerente executivo do Banco do Brasil. Além da cobrança pela administração, descontada anualmente, há ainda uma outra taxa: a de “carregamento”, cobrada com a mensalidade. É bom sempre questionar e comparar as instituições, já que a variação no mercado é muito grande. Em alguns casos, as duas taxas somam de 7% a 8%. “Não entre no papo do gerente do banco, ele é um vendedor. É preciso discutir um porcentual razoável com ele”, ensina o professor Eid Jr.

A atual vedete do mercado atende pela sigla PGBL, de Plano Gerador
de Benefício Livre. Desde que foi criada, em 1999, a nova modalidade aposentou os planos tradicionais, baseados num objetivo de benefício fixo. Os PGBL permitem ao contribuinte determinar os valores de contribuição mês após mês, além de fixar parâmetros de risco para seus investimentos. É possível, também, trocar de instituição a qualquer momento – prática vetada na época dos fundos tradicionais. Recentemente, o PGBL ganhou um irmão, o VGBL (ou Vida Gerador de Benefício Livre). É o tipo de plano indicado para quem faz a declaração
de Imposto de Renda de forma simplificada ou é isento. “Essa nova modalidade tem potencial para atingir 20 milhões de pessoas”, afirma o presidente da Bradesco Previdência, Marco Antônio Rocha. Ainda estão para surgir novos produtos que terão garantia de reajuste pela inflação.

Sem medo – Sem cultura prévia de poupança de longo prazo, graças
aos anos de espiral inflacionária e à quebra, nos anos 70, dos montepios (um espécime rudimentar da previdência complementar), o brasileiro vai aos poucos perdendo o medo de investir no futuro. “Há cinco anos, a média de idade dos contribuintes era de 45 anos. Hoje está em 38. A tendência é chegarmos aos 30”, calcula o presidente da Icatu Hartford, Marcos Falcão. Como mostra a tabela ao lado, nunca é tarde para começar. Sempre é possível adaptar o plano à idade e à renda. Como diria Rita Lee, agora só falta você.