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PEQUENA FERA
Medidos no século XXI, crânios de lince – felino que vive em diferentes
partes geladas do Hemisfério Norte – eram menores do que outros de 1953

O aquecimento global está causando um efeito inesperado nas espécies que habitam o planeta. Em resposta a temperaturas cada vez mais altas, as novas gerações de algumas plantas e animais têm tamanhos cada vez menores. O alerta vem de dois pesquisadores da Universidade Nacional de Cingapura, em artigo publicado na revista especializada inglesa “Nature Climate Change”. Segundo os cientistas, esse efeito poderia afetar negativamente plantações e fontes de proteínas como os peixes, importantes para a nutrição humana.
O levantamento dá conta de que uma vasta gama de espécies, de plantas a predadores, está sofrendo os efeitos das mudanças climáticas. “Analisamos o que foi publicado sobre o assunto nas últimas décadas, assim como evidências de fósseis. As duas abordagens demonstram uma relação direta entre aquecimento e encolhimento”, diz David Bickford, um dos autores do estudo. “Precisamos entender por que isso está acontecendo e o que significa para a sociedade”, completa.

Segundo o especialista, o estudo é uma evidência de que estamos alterando o clima do planeta a ponto de causar um impacto na maioria das espécies. O principal problema, porém, não é a redução do tamanho das plantas e animais, mas as diferentes respostas de cada um – alguns encolhem enquanto outros não são afetados da mesma maneira. “O fato de não ser um evento universal é problemático, porque tem o potencial de abalar os ecossistemas e a cadeia alimentar”, diz Bickford.

Plantas menores, por exemplo, significam menos recursos para os animais que as comem, o que pode levar a indivíduos ou mesmo a populações inteiras menores. Em última instância, a redução do tamanho pode resultar em perda de biodiversidade e até mesmo causar efeitos danosos aos seres humanos, como plantações menos produtivas e serviços ambientais comprometidos ou limitados – menos organismos purificadores de água ou sapos para comer insetos perigosos, por exemplo.

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ANÃS
Segundo estudo, espécies amazônicas correm risco

Um grau centígrado a mais nos termômetros pode diminuir o tamanho de invertebrados marinhos em mais de 4%, salamandras em 14% e peixes em até 22% (conheça mais exemplos no quadro abaixo). Mas a redução mais perigosa, provavelmente, é a do fitoplâncton, plantas microscópicas que são a base da cadeia alimentar em todos os oceanos. “Isso pode afetar negativamente toda a vida no mar”, afirmam os pesquisadores.

Eles também já sabem que nem tudo fica menor com o aquecimento global. Um estudo publicado no ano passado mostra que marmotas da barriga amarela podem ficar maiores em decorrência das mudanças climáticas. Os cientistas acompanharam por 30 anos uma colônia desses mamíferos, que, por conta do calor, passaram a desmamar mais cedo e tiveram tempo para crescer mais. Outros estudos indicam que certas espécies de lagarto, pato, lontra e algumas aves também estão crescendo em tamanho corporal. A maioria delas, no entanto, habita lugares de altas latitudes, onde a vegetação cresceu com o aumento da temperatura, tornando o encolhimento menos comum. Apesar do alerta, os pesquisadores são cautelosos. “Ainda não sabemos se esse fenômeno pode ser catastrófico ou se os sistemas evolutivos e ecológicos vão se adaptar”, finaliza Bickford. 

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