Na manhã de 27 de maio de 1941, no auge da Segunda Guerra Mundial, naufragava o encouraçado Bismarck, uma das mais perfeitas peças navais da Alemanha nazista, depois de histórica batalha contra a esquadra inglesa, 965 quilômetros a oeste do Porto de Brest, na França. A artilharia certeira do Bismarck foi responsável pelo naufrágio do HMS Hood, orgulho da frota britânica, matando 1.400 pessoas. Atacar o Bismarck virou ponto de honra para os britânicos, que, num brutal bombardeio, destruíram suas quatro torres, demoliram sua estrutura e incendiaram seu convés. O navio de 50 mil toneladas afundou com cerca de dois mil marinheiros. Só 115 sobreviveram.

Essa é a história oficial. Depois de 61 anos, dois pequenos veículos robotizados operados por controle remoto (ROVs,) mergulharam a
4.785 metros de profundidade e trouxeram à tona uma diferente versão do naufrágio. Comandados por James Cameron, o diretor de Titanic,
os robôs atravessaram alguns dos 2.800 buracos deixados pelo bombardeio na armadura do encouraçado. “Os buracos estão concentrados em quatro lugares na parte lateral, o que é uma prova
da força da armadura. Olhamos por baixo dela para tentar encontrar
os danos causados pelos torpedos e descobrimos uma coisa interessante”, diz Cameron. Segundo ele, os ROVs, projetados pelo próprio diretor e seu irmão, revelaram que, mesmo que os torpedos tenham penetrado o casco interno e a fina parede do tanque de combustível, a divisória do porão não foi rompida.

“O Bismarck afundou em apenas 15 minutos. Se ele tivesse
naufragado somente devido ao bombardeio, teria levado mais
tempo. Nossa conclusão é que os tripulantes fizeram buracos no
navio com a esperança de serem salvos. A submersão proposital
foi uma importante peça no quebra-cabeça do naufrágio”, analisa
o cineasta. Além dos veículos-robô, a equipe de Cameron usou
câmeras de alta definição que filmavam em 3D e luzes potentes
para vencer a escuridão do fundo do mar.

Todas essas descobertas estão no
inédito documentário de duas horas
de duração, Bismarck: a expedição
de James Cameron
, que o canal pago Discovery Channel exibe no dia 16 de fevereiro, às 21h. Em entrevista a ISTOÉ,
o cineasta relatou as dificuldades de
sua missão invernal, em pleno Atlântico Norte. “O clima foi um problema. Algumas vezes não dava para mergulhar, outras vezes éramos forçados a mergulhar dois dias seguidos”, diz Cameron, um fã das expedições do francês Jacques Cousteau, exibidas na televisão.

Pioneirismo – Cameron não foi o primeiro a se interessar pelos
destroços do Bismarck. Em 1989, Robert Ballard, explorador
subaquático da National Geographic, se aventurou a bisbilhotar
o histórico naufrágio. O equipamento usado foi o robô teleguiado
Argo, projetado pelo explorador para filmar e fotografar em águas profundas. “Quando a equipe de Ballard fez sua expedição ao
Bismarck, o equipamento filmou o navio de cima, por isso
não conseguiu ver o que vimos”, esclarece Cameron.

Além do Bismarck, Cameron e Ballard têm um outro interesse em comum:
o Titanic. Se o explorador foi o responsável pelo descobrimento
dos vestígios do navio, Cameron transformou sua paixão em ficção
com o filme homônimo, que faturou
o Oscar em 11 categorias.

Treze anos depois de visitar o encouraçado alemão, Ballard continua à toda em suas explorações submarinas. No mês passado, ele e um grupo de cientistas descobriram o mais
antigo navio naufragado no mar Negro. Estudos preliminares indicam
que a embarcação teria entre 2.490 e 2.280 anos. “Essa descoberta
é uma chave para entender a era do comércio no mar Negro, só conhecida através de registros escritos”, afirma Ballard, que pretende ainda neste ano embarcar na sua quinta missão à região, agora com
uma nova tecnologia: um submergível chamado Hércules, que irá
escavar o navio naufragado.