Há um fenômeno recente que reforça a ideia de um avanço consistente de uma nova classe de consumidores brasileiros. O fenômeno está vinculado ao maior programa social do governo. Nos últimos tempos não parou de crescer o volume de pessoas que abandonaram o Bolsa Família, por vontade própria ou não. Pode parecer uma incongruência, mas a saída de participantes do programa – sem que isso signifique a diminuição do número de atendidos, dada a entrada de mais aspirantes ao benefício – está diretamente ligada à melhoria do poder de compra da população. Os brasileiros que deixaram de receber o valor pago pelo Estado o fizeram por não se enquadrar mais no teto de renda familiar previsto – que é de R$ 70 a R$ 140 mensais, por pessoa. Ultrapassaram esse limite. Melhoraram de vida, tiveram acesso ao mercado de trabalho e conquistaram outras fontes de recursos. Na ponta do lápis, saíram do programa, desde a sua criação em 2003, cerca de 2,227 milhões de famílias, em razão exclusivamente da subida de status social. A classe emergente dos que antes estavam na condição de miséria absoluta também coloca por terra outro mito que cercava o Bolsa Família: o de que era um programa meramente assistencialista, que acomodava os participantes na condição de sustentados pelo Estado, sem estimular sua ida para o setor produtivo. Os que evoluíram para a nova condição de ex-assistidos conseguiram o feito graças principalmente ao reajuste do salário mínimo em patamares bem acima da inflação – uma medida com impacto positivo nessa camada de renda, mas que em contrapartida provocou também um aumento considerável dos custos nos setores público e privado. Atualmente mais de 12 milhões de pessoas estão cobertas pelo Bolsa Família, o que representa a quase totalidade dos 16 milhões de brasileiros classificados abaixo da linha de indigência (com renda mensal per capita inferior a R$ 70). É um fator digno de nota. Os frutos do programa são inegáveis hoje. A experiência já serviu de modelo para outras partes do mundo. As críticas de que não vingaria dado o seu cunho demagógico caíram por terra após um trabalho sistemático de combate aos desvios e irregularidades. E, em grande medida, por conta da iniciativa, o País viveu uma alavancagem econômica com a chegada ao mercado de milhões de novos compradores.