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LEITURA
Alfabetizados pelo método fônico participam de roda de leitura em escola de Sergipe

A discussão é antiga. De um lado estão os defensores do método global construtivista de alfabetização e do outro os entusiastas do método fônico. Historicamente, o Brasil tem recorrido mais ao primeiro do que ao segundo (leia quadro) na hora de ensinar as crianças a ler. Não sem a oposição ferrenha dos entusiastas do método fônico, que acabam de ganhar um poderoso aliado na disputa pela prevalência entre os educadores. Nesta semana, será divulgado um levantamento feito sob a tutela da Academia Brasileira de Ciências com base em 75 estudos internacionais que mostra, entre outras coisas, a maior eficiência do método fônico.

A dificuldade que o jovem brasileiro tem para ler, demonstrada em testes nacionais e internacionais, pode ser um indicativo dos problemas do método mais usado atualmente. Além disso, estudos científicos com base em análises por ressonância magnética e neuropsicologia durante a alfabetização comprovam que começar ensinando os fonemas e seus correspondentes gráficos, como reza o método fônico, amplia a capacidade de leitura da criança. “O raciocínio é simples: para aprender a dirigir você não começa na avenida Paulista na hora do rush”, exemplifica Fernando Capovilla, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “É mais ou menos isso que os partidários do método global construtivista apregoam, enquanto nós queremos começar na rua tranquila, com orientações diretas até que se construa segurança.” Experiências de sucesso do sistema fônico em países como os Estados Unidos e a França também são lembradas pelos partidários do sistema.

Para os defensores do método construtivista, porém, a questão é mais complexa. “Saber ler não indica, obrigatoriamente, que se compreende o que está sendo lido”, ressalva Claudemir Belintane, professor da Faculdade de Educação da USP na área de metodologia do ensino de língua portuguesa. Para ele, quando se fala em alfabetização, é preciso levar em conta muito mais do que fonemas e grafismos. E o método global construtivista, por princípio, inclui o universo do aluno. Na prática, o dia a dia da escola vai além das disputas acadêmicas. “Nós professores fazemos o que é possível”, admite Maria Isabel Azevedo Noronha, docente e presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo. “E eu não conheço nenhum método que dê conta, sozinho, da alfabetização”, diz.  

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*Ao contrário do que sugere a matéria "Vitória do bê-á-bá" (Ed. 2189), Claudemir Belintane não é defensor do método global construtivista nem do fônico.