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ÍDOLO
Cielo pouco antes de vencer os 100 metros livres: ele inspira uma geração de novos talentos

“Thiago, señor del agua.” Com essa manchete e uma foto de mais de meia página do nadador brasileiro Thiago Pereira , o jornal “El Informador”, líder de circulação em Guadalajara, abriu uma de suas edições na semana passada. Nas emissoras de tevê, uma das figuras mais badaladas era de Cesar Cielo, que até a noite da quinta-feira 20 tinha faturado dois ouros no México. “Derrotar nadadores como os do Brasil é glorioso”, disse o americano Conor Dwyer logo após ter conquistado o título nos 4 x 200 metros livres. “São eles quem mais nos incomodam hoje.” Admirada pelo público e respeitada pelos adversários, a natação brasileira deu um banho na 16ª edição dos Jogos Pan-Americanos. Melhor ainda: os resultados superaram as projeções mais otimistas. Graças às piscinas, nos primeiros cinco dias de competições do Pan, o Brasil teve um desempenho superior aos Jogos anteriores, disputados em 2007, no Rio de Janeiro, e provou que o País está preparado para brilhar na Olimpíada de Londres, em 2012.

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IMBATÍVEIS
Parque Aquático de Guadalajara: os hinos mais ouvidos foram o do
Brasil e o dos Estados Unidos, recordistas de pódios no evento
 

Para justificar a se­quência de gerações vencedoras no esporte, os atletas dispensam os fatores sorte e coincidência. Organização, melhoria nas instalações dos clubes e técnicos mais bem preparados são as explicações preferidas dos nadadores. Essa conjunção tem obrigado o torcedor brasileiro a abrir espaço na memória para abrigar novos nomes. No caso do Pan atual, ele atende por Leo­nardo de Deus, que ficou com o ouro nos 200 metros borboleta. “Outra característica que ajuda a formar campeões é o fato de termos ídolos”, diz André Schultz, nadador paulista que, ao lado de Leonardo, ganhou uma prata nos 4 x 200 metros livres. “Nadadores como Ricardo Prado e Gustavo Borges ajudaram a natação brasileira a ser o que é hoje.”

O atual estágio do esporte no Brasil livra os novos nadadores de fazer roteiro parecido com o de Schultz, que aprimorou suas braçadas na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Um dos maiores atletas da história do País, Cesar Cielo trocou a Universidade do Alabama, também nos Estados Unidos, pelo Flamengo, no Rio de Janeiro. Hoje em dia, é comum nadadores dizerem não a convites estrangeiros. Um deles é o curitibano Henrique Rodrigues, bronze nos 200 metros medley no Pan de Guadalajara. “Tem quatro universidades americanas atrás de mim, mas no Brasil estão os clubes, os técnicos e as piscinas de que a minha carreira precisa”, diz. Um desses clubes é o Pinheiros, de São Paulo, que emprega o técnico de natação Arilson Silva. Segundo Felipe França, ouro nos 100 metros peito em Guadalajara, Silva é um dos responsáveis por sua evolução nas piscinas. Quando chegou ao clube há sete anos, o nadador era uma boa promessa, mas pesava 103 quilos e teve um choque de realidade ao descobrir que seus índices não eram suficientes para que ficasse nem entre os cinco melhores “peitistas” do Pinheiros. Com a orientação de Silva e o trabalho de uma nutricionista, seis quilos foram embora e as conquistas, como o ouro nos 50 metros peito no Mundial de Xangai de 2011, começaram a aparecer.

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PÓDIO
Joanna Maranhão, que levou duas pratas: onde está o ouro?

O avanço nas instalações dos clubes e o aprimoramento dos técnicos nacionais não são suficientes, no entanto, para que o sucesso da natação masculina se estenda para a feminina. Com atuação abaixo da dos rapazes em Guadalajara, as meninas continuam sem conquistar um ouro na história do Pan. O que explica a diferença de performance entre eles e elas? Para muitos treinadores, só agora começa a existir um número elevado de atletas suficiente para forjar campeãs no futuro. Na lógica do esporte, a quantidade em geral é aliada da qualidade – é por isso que, entre milhares de garotos que se tornaram velocistas após as conquistas de Gustavo Borges, surgiu um vencedor como Cesar Cielo. As mulheres iniciaram esse processo apenas recentemente e talvez daqui a alguns anos o País também possa colocá-las no lugar mais alto do pódio. A pernambucana Joanna Maranhão se esforçou para quebrar a sina da falta de ouros. Conquistou duas pratas e um bronze no México, mas teve de abandonar as competições depois de machucar o indicador direito. Joana perdeu também a oportunidade de se tornar um ídolo, fator responsável pelo sucesso masculino que mais faz falta para as meninas. 

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