Mazzaropi pertence à tradição de Carlitos, um personagem que se confundiu com seu criador Charles Chaplin, assim como o mexicano Cantinflas, o francês Fernandel ou o italiano Totó, cujos nomes dispensavam apresentação, sendo mais importantes do que os filmes de que participavam. A caixa Coleção Mazzaropi – volume I – os anos dourados da Vera Cruz (Cinemagia) traz quatro CDs que podem ser adquiridos separadamente. São os três primeiros filmes realizados pelo artista para a lendária empresa cinematográfica – Sai da frente e Nadando em dinheiro, ambos de 1952, e Candinho, de 1953, além de O gato de madame, de 1956, rodado para a Brasil Filmes. O projeto pretende restaurar os 32 filmes do Jeca do Brasil, que morreu em 1980, aos 69 anos.

Quando foi chamado para filmar na Vera Cruz, empresa criada em 1949 pelo grupo liderado pelo imigrante italiano Franco Zampari, também responsável pela criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), Amácio Mazzaropi já tinha 40 anos e era um nome conhecido em todo Brasil, saído dos picadeiros para a nascente televisão. Na virada dos anos 50, a Vera Cruz se fazia conhecer como a Hollywood brasileira. Mesmo assim fechou suas portas em 1954. Sai da frente estreou em 12 salas de São Paulo – um feito e tanto para a época –, com direito a noite de gala no então luxuoso Cine Marabá, na avenida Ipiranga, centro da capital paulista. Conta as desventuras de Isidoro Colepícola, um simplório motorista que faz entregas no seu caminhão chamado Anastácio. Ele iria repetir o personagem em Nadando em dinheiro, seu filme posterior, passado em São Paulo. Naquele tempo, Mazzaropi era tão querido que foi homenageado pelo respeitado maestro Radamés Gnatalli com um tema baseado em Trenzinho caipira, de Heitor Villa-Lobos.

Semelhante perfil urbano reaparece em O gato de madame, com Odete Lara, no qual o comediante personifica Arlindo, um engraxate às voltas com gângsteres e misses. Mas é em Candinho que o caipirinha aflora. Vagamente inspirado em Candide, do filósofo francês Voltaire, a fita narra as atribulações de um órfão abandonado no interior de Minas Gerais, que vem para a cidade grande onde encontra a irmã se prostituindo e seu benfeitor, vivido pelo compositor Adoniran Barbosa, ganhando a vida como falso mendigo. À exceção de Gato de madame, que teve direção de Agostinho Martins Pereira, são filmes escritos e dirigidos por Abílio Pereira de Almeida. Todos trazem um toque de modernidade e ousadia, que Mazzaropi abandonaria mais tarde.


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