Jogo eleitoral é quase sempre igual. A briga pelo lugar de procurador-geral de Justiça de São Paulo tem tudo o que um belo embate deve ter: oposição e situação, campanhas intensas e troca de acusações. Concorrem à cadeira hoje ocupada por José Geraldo Brito Filomeno os procuradores Luiz Marrey, René de Carvalho e Juarez Mustafá. Até o dia 20, os candidatos fazem campanha e recepcionam os 1.615 eleitores – procuradores e promotores – que votam na sede do Ministério Público Estadual, no centro de São Paulo. No mesmo dia, sai o resultado, mas quem escolhe é o governador a partir de uma lista tríplice. Geralmente, eles nomeiam o mais votado. A exceção foi no pleito de 1996. Luiz Marrey, hoje o candidato da situação, ficou em segundo lugar, mas assim mesmo foi nomeado por Mário Covas, que preteriu Burle Filho – então apoiado pelo grupo do ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho.

Está em jogo nesta disputa, além da autonomia administrativa e financeira da chefia do MP, a indicação de funcionários para cerca de 100 cargos de confiança. Talvez por isso a briga esteja acirrada e pouco educada. Desde o início das eleições, o procurador Luiz Marrey é alvo de ataques. Uma denúncia anônima distribuída aos promotores, procuradores e à imprensa aponta suspeitas de superfaturamento e enriquecimento ilícito envolvendo duas pessoas que ocupavam cargos de confiança nas duas gestões de Marrey. Questionado, ele esbraveja e explica que as denúncias são uma tentativa de manipulação. “Isso é uma carta anônima que acusa duas pessoas daqui e não tem a ver comigo. Em dois anos nunca se levantou nada sobre isso e essas denúncias aparecem só agora?”

O candidato René de Carvalho citou a acusação em seu manifesto eleitoral. Marrey mandou uma carta criticando a atitude de seu adversário e explicou que, mesmo se tratando de uma denúncia indireta contra ele, se deu ao trabalho de responder a René porque achou que o manifesto induzia o eleitor ao erro. “Minha carta esclarece as dúvidas que poderiam haver. As acusações vêm de alguém que só quer jogar lama. É um candidato cuja proposta não é respeitada aqui.” Na sequência, recebeu outra carta de René que, mais uma vez, não economizou na munição e se considera injustiçado. “Devo levar bronca porque peço, como membro do MP, a apuração de uma denúncia?”, ataca. Enquanto isso, Mustafá, ex-presidente da Associação Paulista de Funcionários do MP, diz que não ataca ninguém, mas sutilmente se contradiz ao afirmar que “o MP está estagnado desde 1996 (ano em que Marrey assumiu)”.