Faz parte da cultura democrática brasileira um teste a que os presidentes são submetidos pelas centrais sindicais ainda no primeiro ano de mandato. Ainda em plena lua de mel com o poder e com os eleitores, os chefes do Executivo se veem encurralados por greves de categorias ligadas ao serviço público em busca de melhorias salariais e outros benefícios. Em geral, funcionários vinculados à saúde e à educação, além de bancários e petroleiros, costumam promover paralisações nacionais. Exigem ganho real e não querem ter descontados nos salários os dias que passaram sem trabalhar. Adotam a estratégia de esticar a corda o máximo possível. Nos últimos anos, diante dessas pressões, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva rea­giram de forma diferente. FHC, certo de que não poderia abrir mão do rigor econômico imposto nos primeiros anos do Real, não cedeu. Bateu de frente com as centrais sindicais e pagou um preço alto por isso. Precisou colocar tanques de guerra nas ruas para enfrentar os petroleiros e passou os outros sete anos de sua gestão carregando a fama de não ter atendido a classe trabalhadora. Com Lula foi diferente. O petista que tem o sindicalismo em seu DNA encontrou um país economicamente mais arrumado e pôde ceder bastante. Permitiu aumentos de salários bem acima da inflação e assegurou um permanente fluxo de recursos para as cen­trais sindicais. Terminou os oito anos de governo com a imagem do presidente que melhorou a vida dos trabalhadores. Agora chegou a vez da presidente Dilma Rousseff. Ela segue a cartilha de Lula, está filiada ao Partido dos Trabalhadores e é reconhecida pelos atributos da boa ges­tão. Sabe que, diante da crise que abate a Europa e os EUA, fazer qualquer concessão à onda grevista de 2011 seria irresponsabilidade. Mas, ao contrário de FHC, Dilma tem condições objetivas de dizer não aos sindicalistas sem arcar com os ônus dessa postura. A presidente está diante de trabalhadores que tiveram ganhos reais nos últimos oito anos e de centrais que têm sido generosamente aquinhoadas com dinheiro público. Dessa forma, ela pode repetir com autoridade a frase que Lula dizia sem muita convicção: “Greve não é férias.” Assim, a presidente agiu corretamente com os funcionários dos Correios, que terão os dias parados descontados de seus salários. Certamente, as outras categorias já estão com as barbas de molho.