A história tradicional registra a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 29 de maio de 1453, como o início da Era Moderna. A partir de então, o Império Otomano, estabelecido no século XIII, se expande do Norte da África à península arábica e dos Bálcãs à Hungria e partes da Rússia. O império durou quase 700 anos, mas o que é pouco lembrado é que sua decadência começou logo depois da conquista de Bizâncio. Já na segunda metade do século XVI, quando os enfraquecidos sultões – os imperadores turcos – tentam reconstruir o poder absoluto, o poder de fato passa a ser exercido pelas mulheres do harém do monarca. Este período, conhecido como “sultanato das mulheres”, marca os primeiros sinais da decadência do império. Mulher de pedra (Record, 320 págs., R$ 32), o mais recente livro do escritor e roteirista paquistanês Tariq Ali, é um lírico e sutil olhar feminino sobre essa decadência, mas já nos estertores do século XIX.

Através dos desencontros da aristocrática família de Iskander Pasha, antigo embaixador otomano em Paris, narrados por sua filha Nilofer, revela-se um painel sem estereótipos da condição feminina na civilização islâmica. A mulher de pedra, uma estátua de uma antiga deusa dos jardins dos Pasha, testemunha silenciosa os segredos das gerações das mulheres da família e como elas habilmente contornavam as imposições patriarcais. E a desagregação dos Pasha espelha a lenta decomposição do outrora poderoso Império da Sublime Porta.