Hollywood costuma premiar atores saudáveis que representem deficientes sensíveis, caso de Dustin Hoffman em Rain man e Daniel Day-Lewis em Meu pé esquerdo, respectivamente ganhadores do Oscar de melhor ator de 1988 e 1989. Este ano, o prêmio iria fácil para Sean Penn por seu papel em Uma lição de amor (I am Sam, Estados Unidos, 2001), cartaz nacional a partir da sexta-feira 22, não fossem as performances arrasadoras de seus concorrentes Russell Crowe e Denzel Washington ou o filme em si. A história escrita pela atriz e diretora Jessie Nelson é bem simples e comovente, ingredientes cuja utilização excessiva pode colocar a perder qualquer receita. Sam Dawson, personagem de Penn, nitidamente inspirado em Stan Laurel, o Magro da dupla O Gordo & o Magro, é pai solteiro e tem a idade mental de uma criança de sete anos. O que fazer então quando a menina, batizada Lucy Diamond (a excelente Dakota Fanning, oito anos), atingir a idade adulta? Na prática seria um caso insolúvel. Mas Jessie preferiu insistir.

Lá pela metade do filme, quando se tem a impressão de que já se passaram umas seis horas, surgem a advogada Rita Harrison (Michelle Pfeiffer), a mãe adotiva Randy Carpenter (Laura Dern) e a vizinha Annie (Dianne Wiest) cada qual com seu problema, mas procurando proteger Sam, Lucy ou ambos. Para complementar o dilúvio de lágrimas decorrente de tal situação, o filme é forrado de referências aos Beatles. Sam diz que George Harrison é seu favorito, mas fantasia-se de Paul McCartney numa festa da filha e tem o quarto forrado exclusivamente de fotos de John Lennon. Ou seja, como todo beatlemaníaco, é duplamente esquizofrênico. Para quem gosta de histórias sentimentais, é a fita ideal. Só que o caráter déjà vu não some.