A idéia entrou na sua cabeça como entram todas as idéias – com pouca certeza. Em pouco tempo cristalizou-se, virou idéia fixa: caçar e matar Saddam Hussein. Desde o último final de semana, o jovem carioca Felipe Carvalho Barbosa, 22 anos, não pode mais ter idéias ou ideais: ele não caçou Saddam porque desembarcou no Iraque, como membro do Exército dos EUA, depois da invasão. Mas foi lá, na região de Falujá (cerca de 50 quilômetros de Bagdá), que o caminhão militar americano em que ele viajava na sexta-feira 27 passou sobre uma mina. Felipe morreu. Há 12 anos que ele vivia nos EUA, três vezes tentou entrar no Exército e foi barrado, da quarta vez conseguiu. Foi a terceira vítima brasileira desde a ocupação do Iraque – as outras duas são o diplomata Sérgio Vieira de Mello e o engenheiro João José de Vasconcellos Jr.

Felipe chegou ao Iraque em outubro do ano passado com a missão de participar da estabilização do que restou de um país hostil à ocupação. Juntamente com o mineiro Felipe Mesquita, 22 anos, e com o também carioca Daniel Carvalho, 24 anos, ele formou o trio brasileiro do 6º Regimento de Marines. Religioso (era evangélico), Felipe se via como um cruzado. “Ele falava que se conseguisse evangelizar uma só alma no Iraque já teria vencido a guerra”, disse a ISTOÉ a sua tia Maria Simões. Mas aquela não era uma missão de catequese e os horrores da guerra pioravam cada vez mais. “A coisa aqui está feia, já vi muitos amigos morrerem. Está dando medo”, lamentou ele 15 dias antes do acidente fatal. “Essa era a missão de meu neto e ele a cumpriu. Mas eu sei que ele queria voltar ao Brasil”, diz a sua avó Cecília Rodrigues Carvalho.

Felipe não teve o tempo do regresso, o mesmo regresso que quer o goiano Tony Quirino, 23 anos. Tony participou da invasão em 2003, lá permaneceu por um ano e voltou para os EUA, onde está atualmente. Agora quer terminar o quanto antes a viagem de volta e pisar o Brasil. “Um mês atrás, eu tive diversos pesadelos. Neles, quem estava sendo torturado era eu”, disse ele a ISTOÉ. “Deveria ter saído do Exército dos EUA antes mesmo de começar a guerra, mas não me arrependo. Foi uma experiência incrível, só não quero vivê-la novamente.”

Atração fatal: entrar para as Forças Armadas dos EUA é o sonho de muitos imigrantes. Ao se alistarem, os soldados estrangeiros obtêm a cidadania americana no prazo de um ano. Recebem um bônus que chega a US$ 40 mil em quatro anos de serviço e desfrutam de facilidades para empréstimos pessoais


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