Na liturgia da moda, Bento XVI é dez. João Paulo II era pop. O papa atual é fashion. O primeiro sinal dessa tendência apareceu logo no início de seu pontificado, em abril de 2004: o time de alfaiates comandado por Annibale Gammarelli foi sumariamente dispensado – e vale lembrar que essa família confeccionava as vestes papais desde 1792. O motivo de os Gammarelli se verem desempregados de uma hora para outra foi um erro de tesoura e fita métrica: a batina e os paramentos preparados para Joseph Ratzinger trajar no dia em que foi eleito papa ficaram um pouquinho curtos. Tocado na vaidade, o papa não gostou de si próprio refletido no espelho: convocou Alessandro Cattaneo, que fora seu alfaiate nos tempos de cardinalato, para confeccionar vestimentas que lhe caíssem bem para se sentar no trono de São Pedro no Vaticano. A fim de dar um toque de sofisticação, Bento XVI também se valeu dos serviços de Raniero Mancinelli, dono da grife especializada em luxuosas indumentárias religiosas.

O tempo foi passando e Bento XVI foi sendo observado em diferentes ocasiões usando produtos ainda mais badalados, das mais famosas grifes italianas. Óculos Gucci e sapatos vermelhos Prada, por exemplo. Ele também gosta de bolsas estilo sacola e nécessaire da moda. As preocupações mundanas do ex-guardião da doutrina da fé (na época em que ele era subalterno de João Paulo II) não passaram despercebidas pela revista americana Newsweek, que as ironizou numa curta e sarcástica reportagem intitulada “O papa veste Prada”, numa referência ao best-seller O diabo veste Prada, de Lauren Weisberger. Trata-se de um livro em que Anna Wintour, a poderosa editora da revista americana Vogue, é pintada como uma criatura absolutamente infernal e que adora se exibir com roupas de grife. Ficou ruim para Bento XVI, mas ele vai em frente.

Natal, a mais tradicional festa católica, e eis que o papa apareceu usando um
gorro vermelho com bordas brancas de arminho. Internautas desavisados
desfiaram um rosário de críticas e se precipitaram ao associar o “novo”
paramento a um desejo de Bento XVI de se passar por Papai Noel. Ora, logo
ele, tão sofisticado? Na verdade, o gorro vermelho não tinha nada a ver com o
bom velhinho do trenó e dos presentes – o gorro era um barrete idêntico aos que adornaram, e muito, as cabeças de numerosos papas desde o século XII. Sofisticação pura. O barrete (chama-se camauro) que Bento XVI exibiu fora usado pela última vez pelo papa João XXIII (1958-1963). De Gucci a Prada, Bento XVI é a prova de que a santidade também pode ser chiquérrima.